18 março 2011

A Pensão do Zé

Terá começado há cerca de 20 anos, mais coisa, menos coisa. Uns génios financeiros profícuos em previsões macroeconómicas que o futuro costuma confirmar pouco fiáveis, começaram a dizer ao Zé que os Estados iam deixar de poder garantir a sua pensão de reforma e que ele tinha que se precaver. O Zé assustou-se e floresceram os vários produtos financeiros de capitalização como seguros e PPR’s, criando uma enorme massa que anda por aí à solta, a ser gerida pelos tais génios.
Numa primeira fase compraram, espremeram e venderam empresas, tendo sido comparados a um bando de gafanhotos vorazes, mas agora encontraram terreno mais seguro. Aquela coisa de que se fala muito recentemente, os tais “mercados financeiros”, é em grande parte a aplicação dessas poupanças dos Zés, e até mesmo do próprio coordenador do Bloco de Esquerda que tanto vocifera contra os mesmos. Descontando uma certa ingenuidade dos Estados que pensavam ter acesso ilimitado a esses mercados, reconheço ter pouca simpatia por esses gestores e dou dois exemplos que me repudiam fortemente: quando na situação actual do Japão, a sua preocupação é tentar adivinhar a evolução do yen e assim “investir” na boa direcção, independentemente do que isso pode significar de agravamento na situação do país martirizado e quando reclamam o direito de conhecerem o estado real de saúde de Steve Jobs, se vai durar semanas ou meses, para assim optimizaram a gestão da sua carteira de acções da Apple.
Depois, voltando às pensões, temos ainda o exemplo do Chile em que os “Chicago boys” implementaram precocemente este esquema de pensões de reforma privado. Parece que há fundos que derreteram e como o dinheiro em geral não nasce, há gente que está a ver a sua reforma rateada a 30% do valor previsível, e é de assinalar que o Estado Chileno não faliu.
Veremos se eu entendi bem o circuito actual: para se proteger do Estado, o Zé entrega poupanças aos fundos, este emprestam aos Estados a boas taxas de juro e terão excelentes resultados, o Estado para servir essa dívida (além de ter que corrigir outros disparates) tem que reduzir as pensões que paga. Há algo que me escapa ou parece existir aqui alguma coisa estruturalmente errada?

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