24 fevereiro 2011

Notícia do dia

Diz o El País que a situação na Líbia está muita confusa. Acrescenta que 17 pilotos da força aérea líbia foram executados por se terem negado a bombardear bairros em poder dos rebeldes na cidade vizinha de Zauia. Não vale a pena comentar, pois não? Apenas tirar o chapéu e desejar que este exemplo de dignidade ajude a reduzir a insanidade no mundo, porque: “ A vida humana é tão importante que não pode permitir que a nossa própria vida tenha primazia sobre tudo o resto”.
Depois há aquelas notícias que enjoam e enojam. Uns analistas, daqueles bons em dar palpites que não caem no próprio bolso, opinam que se a Líbia e a Argélia pararem a produção, o petróleo pode chegar aos 200 USD. Gostava de ver essas contas e como se chega aos 220 e gostava também de “discuter un peu” com o idiota que consegue pôr a Líbia no mesmo patamar da Argélia! Aliás também gostava de ver um gráfico temporal comparando a evolução do preço do crude com o dos combustíveis. Uma coisa me parece: estes palpites ajudam efectivamente a subida.,
Uns iluminados em Lisboa, olhando para o outro lado do Mediterrâneo, acham que Magreb é mais ou menos a mesma coisa do Nilo à Mauritânia, da mesma forma como a Europa seria igual da Grécia até à Irlanda!
Numa revista semanal um tal de filósofo Gil faz uma análise teórica da “revolução” Egípcia de que talvez o Sartre gostasse. Só que este está morto, arrefece e cheira mal. Terá o nosso filósofo alguma vez visto, falado e sentido o cheiro de gente com fome, gente oportunista, gente violenta, gente generosa, gente cega ? Seguramente que não, mas é toda essa gente que esteve na rua em Tunes e no Cairo.
Ontem de manhã, num “petit táxi” de Casabranca, o homem fazia questão de me convencer que o Cristiano Ronaldo não tinha técnica, que não chegava aos calcanhares do Messi (o Figo, esse sim!), e encostamos para dar passagem a uma caravana oficial escoltada: “É o rei, estás a ver? Ainda é cedo e lá vai ele a caminho de Marrakech! Não pára! Tem feito um trabalho extraordinário!”
No final, que toda a gente viva melhor e com dignidade, sabendo que nunca lá se chega facilmente nem com simplificações grosseiras - isso é estúpido.

13 fevereiro 2011

Problema de concorrência ?!


Vemos aqui acima de um lado a pick-up Ford F 150, muito popular nos “states”, e do outro o monolugar da Ferrari para o próximo campeonato de Fórmula 1. Sendo o “F” um prefixo habitual desta última marca, especialmente nos mais recentes, e comemorando-se este os 150 anos da República Italiana a bela máquina recebeu o nome de F 150.

Ora bem, os homens de Detroit, se calhar ainda não tendo digerido completamente o falhanço da tentativa de aquisição da marca italiana há 50 anos atrás, resolveram reagir legalmente, apresentando uma queixa em tribunal baseada no facto de que «a Ferrari apropriou-se da marca F-150 para baptizar o seu novo modelo de competição F150, para capitalizar e lucrar com a notoriedade desta marca desenvolvida pela Ford".

Ora bem, olhando para as fotos acima, custa a crer que o Ferrari possa beneficiar de alguma forma da “notoriedade” da famosa carripana, antes pelo contrário… Enfim, a Ferrari decretou então que o seu carro só poderá ser referido pelo nome completo “Ferrari F 150th Italia”. Já estou a ver os comentadores das corridas super concentrados para não caírem na tentação de o referirem da forma abreviada, que possa desencadear uma fatal acção legal dos brilhantes advogados da marca F****. O ridículo não mata mas devia marcar.

11 fevereiro 2011

Estes polacos... !

O piloto de F1 polaco R. Kubica sofreu um grave acidente num rali em Itália no domingo passado, tendo ficado próximo de ver uma mão e até mesmo o braço amputados.
Para ajudar à sua convalescença, receberá uma relíquia do ex-papa e futuro santo João Paulo II que consiste num pedaço de uma veste e uma … gota de sangue!
Que mau gosto! Deve ser uma enorme fonte de força e de inspiração olhar para uma gota de sangue...
E depois o conceito de "relíquia". O que deve mobilizar são os princípios e os valores e não nenhum tipo de quinquilharia, por muito abençoada que se apregoe.
E podes voltar Eça que este mundo não mudou assim tanto..

07 fevereiro 2011

Pasme-se...

Não foi notícia de abertura de telejornal nem deve ter sido capa do “Correio da Manhã”, pelo que espreitei no respectivo site. Apanhei o assunto por acaso e pasmei. Nunca se sabe ao certo todos os contornos destas situações. Apenas uma relação conflituosa entre dois pais separados com uma filha de 4 anos. O pai tinha direito a vê-la 2 horas por semana num jardim público.
No passado sábado, nesse encontro, com muitas testemunhas de ambas as partes, uma discussão e o avô materno dispara à queima-roupa e mata o pai da criança à frente da mesma. O assassínio e a mãe da criança também presente abandonam o corpo morto no local, o que é crime adicional.
Final pasmo: adivinhem o contexto socioprofissional da mãe da criança: Doméstica, desempregada, cigana?!? Não: apenas… juíza!
Estão a imaginar-se um dia numa sala de audiências dependente duma pessoa assim? Não pode ser!!!

05 fevereiro 2011

Um processo ruidoso



Surpreende que após a condenação Carlos Silvino venha dizer que esteve a mentir durante os 7 anos do processo, por estar drogado. Grande droga será esta que faz alguém delirar continuamente durante esse tempo todo!
Surpreende tristemente que essas declarações tenham sido feitas numa suposta “entrevista” que de entrevista e jornalismo não teve nada.
Surpreende escandalosamente que os outros condenados venham de imediato montarem-se em cima do “facto”, que este agora é o que conta e que “prova” a sua inocência!
Deixo uma recomendação: leiam o livro de Francisco Guerra. Não está muito bem escrito mas lê-se depressa e, com as reservas e distâncias que cada qual achar necessárias, é importante ouvir esse lado. E, sobretudo, leiam-no antes que venha para aí uma providência cautelar ou outro palavrão técnico qualquer que “justifique” a sua retirada do mercado. Já vimos tanta coisa …!

03 fevereiro 2011

O nascimento da democracia?

Talvez me tenha enganado há umas semanas atrás quando vaticinava um simples sucessor para Ben Ali na Tunísia. Afinal os tunisinos rejeitam todos os que tiverem ligações com o passado. Para um passado de 23 anos, que começaram por ser a continuação dos 30 anos anteriores de Bourguiba, quem poderá sobrar imaculado e com “capacidade” mínima de governar? Não é evidente. Há aqui um grande buraco à espera para ser ocupado, não se sabe por quem.
Para aqueles que excitados falam da grande novidade do fim das ditaduras e do nascer das democracias no mundo árabe, convém recordar que estes movimentos não são sim tão inéditos e que os seus antecessores não tiverem fim feliz. A história não se repete mas convém não ser esquecida.
Exemplo 1. Argélia, final dos anos 80. Grande contestação e tumultos nas ruas, partido único no poder desde a independência, há mais de 25 anos, é fortemente questionado. O presidente da altura, Bendjedid, depois cognominado “Branca de Neve” pelos cabelos brancos e pela ingenuidade, decide organizar eleições livres e multipartidárias em 1991. O partido islamista (FIS) iria ganhá-las, os militares não gostam, destituem o presidente e suspendem o processo eleitoral. Os radicais pegam em armas para tentarem obter pela força o que lhes tinha sido negado pelos votos. O país mergulha numa década de terror. Hoje, passados 20 anos, talvez 200 000 mortos e uma boa parte da elite intelectual dizimada, ainda não está completamente sanado. Talvez esta experiência traumatizante seja a “vacina” que acalmou, para já, os protestos, que arrancaram em simultâneo com os da Tunísia.
Exemplo 2. Irão 1979 – Um regime autoritário e pro-ocidental cai, empurrado pela “rua árabe”. O que hoje é o Irão passados 30 anos já toda a gente sabe. Pode o Egipto não ser chiita, mas…
Com os todo-poderosos e omnipresentes “aparelhos” desacreditados quem pode aparecer com a imagem pura e limpa e com crédito perante a dita “rua árabe”? O FIS argelino designava “Frente Islâmica de Salvação”. Conforme dizia um Tunisino recentemente essa gente respeita a democracia apenas enquanto é oposição. Ou conforme se receava durante o processo argelino: “um homem, um voto, uma vez”.