Talvez me tenha enganado há umas semanas atrás quando vaticinava um simples sucessor para Ben Ali na Tunísia. Afinal os tunisinos rejeitam todos os que tiverem ligações com o passado. Para um passado de 23 anos, que começaram por ser a continuação dos 30 anos anteriores de Bourguiba, quem poderá sobrar imaculado e com “capacidade” mínima de governar? Não é evidente. Há aqui um grande buraco à espera para ser ocupado, não se sabe por quem.
Para aqueles que excitados falam da grande novidade do fim das ditaduras e do nascer das democracias no mundo árabe, convém recordar que estes movimentos não são sim tão inéditos e que os seus antecessores não tiverem fim feliz. A história não se repete mas convém não ser esquecida.
Exemplo 1. Argélia, final dos anos 80. Grande contestação e tumultos nas ruas, partido único no poder desde a independência, há mais de 25 anos, é fortemente questionado. O presidente da altura, Bendjedid, depois cognominado “Branca de Neve” pelos cabelos brancos e pela ingenuidade, decide organizar eleições livres e multipartidárias em 1991. O partido islamista (FIS) iria ganhá-las, os militares não gostam, destituem o presidente e suspendem o processo eleitoral. Os radicais pegam em armas para tentarem obter pela força o que lhes tinha sido negado pelos votos. O país mergulha numa década de terror. Hoje, passados 20 anos, talvez 200 000 mortos e uma boa parte da elite intelectual dizimada, ainda não está completamente sanado. Talvez esta experiência traumatizante seja a “vacina” que acalmou, para já, os protestos, que arrancaram em simultâneo com os da Tunísia.
Exemplo 2. Irão 1979 – Um regime autoritário e pro-ocidental cai, empurrado pela “rua árabe”. O que hoje é o Irão passados 30 anos já toda a gente sabe. Pode o Egipto não ser chiita, mas…
Com os todo-poderosos e omnipresentes “aparelhos” desacreditados quem pode aparecer com a imagem pura e limpa e com crédito perante a dita “rua árabe”? O FIS argelino designava “Frente Islâmica de Salvação”. Conforme dizia um Tunisino recentemente essa gente respeita a democracia apenas enquanto é oposição. Ou conforme se receava durante o processo argelino: “um homem, um voto, uma vez”.
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