Durante a Guerra de Independência da Argélia (1954-1962), o movimento de libertação FLN entendeu que provocar atentados e atingir civis nas cidades, por ter mais impacto e visibilidade, era muito mais eficaz de que afrontar militares algures numa frente obscura no interior do país. A França reagiu de forma pouca bonita usando de todos os meios incluindo tortura e execuções sumárias para travar o que entendiam ser um flagelo que “quase tudo” justificava. Esta situação foi próxima da actual no Iraque e consta que o Sr G. Bush anda a ler livros sobre o assunto. Infelizmente o epílogo da guerra na antiga colónia Francesa foi tudo menos pacífico e civilizado, apesar de um controlo militar muito mais efectivo do que o actual no Iraque.
Que pensar sobre o assunto? Duas grandes referências intelectuais da época, filosoficamente muito próximas, escreveram sobre o assunto de forma diversa:
Vivemos no terror porque a persuasão deixou de ser possível, porque o homem se entregou inteiramente à história e já não se pode voltar para a parte de si mesmo, tão verdadeira quanto a parte histórica, e reencontrar face a ele a beleza do mundo e dos rostos, porque vivemos no mundo da abstracção, o dos escritórios e das máquinas, das ideias absolutas e do messianismo sem nuances. Asfixiamos entre aqueles que acreditam terem absolutamente razão, seja na sua máquina, seja nas suas ideais. E para todos os que não podem viver que não seja no diálogo e na amizade dos homens, este silêncio é o fim do mundo.
Albert Camus in “Reflexões sobre o Terrorismo”
Nestes primeiros tempos de revolta, é necessário matar. Abater um Europeu é matar dois coelhos de uma só cajadada, suprimir ao mesmo tempo um opressor e um oprimido: ficam um homem morto e um homem livre. O sobrevivente, pela primeira vez, sente um solo nacional sob a planta dos seus pés.
Jean-Paul Sartre – Prefácio ao " Damnés de la Terre”.
Já sabia há muito que ia um mundo de diferença em termos de grandeza humana entre estes dois vultos. Estes dois extractos citados num livro que acabei de ler sobre o assunto em questão, “Les souffrances secretes des français d’Algérie” de Raphael Delpard, somente o confirmam.
Dá para entender e sorrir ironicamente ao recordar que Camus foi acusado pelos canónicos existencialistas de ser demasiado humanista.
Quanto à profunda leitura que Sartre faz do significado dos atentados, ele que nunca tendo sequer posto os pés na Argélia não correu o risco de cair aos pedaços sob uma bomba libertadora, fica-me a questão: se a bomba explodisse numa esplanada de Montparnasse entre duas baforadas do seu belo cachimbo, lhe amputasse as pernas e matasse alguns próximos, incluindo crianças e familiares, seria que manteria inalteradas estas suas “teorias teóricas”?
Que pensar sobre o assunto? Duas grandes referências intelectuais da época, filosoficamente muito próximas, escreveram sobre o assunto de forma diversa:
Vivemos no terror porque a persuasão deixou de ser possível, porque o homem se entregou inteiramente à história e já não se pode voltar para a parte de si mesmo, tão verdadeira quanto a parte histórica, e reencontrar face a ele a beleza do mundo e dos rostos, porque vivemos no mundo da abstracção, o dos escritórios e das máquinas, das ideias absolutas e do messianismo sem nuances. Asfixiamos entre aqueles que acreditam terem absolutamente razão, seja na sua máquina, seja nas suas ideais. E para todos os que não podem viver que não seja no diálogo e na amizade dos homens, este silêncio é o fim do mundo.
Albert Camus in “Reflexões sobre o Terrorismo”
Nestes primeiros tempos de revolta, é necessário matar. Abater um Europeu é matar dois coelhos de uma só cajadada, suprimir ao mesmo tempo um opressor e um oprimido: ficam um homem morto e um homem livre. O sobrevivente, pela primeira vez, sente um solo nacional sob a planta dos seus pés.
Jean-Paul Sartre – Prefácio ao " Damnés de la Terre”.
Já sabia há muito que ia um mundo de diferença em termos de grandeza humana entre estes dois vultos. Estes dois extractos citados num livro que acabei de ler sobre o assunto em questão, “Les souffrances secretes des français d’Algérie” de Raphael Delpard, somente o confirmam.
Dá para entender e sorrir ironicamente ao recordar que Camus foi acusado pelos canónicos existencialistas de ser demasiado humanista.
Quanto à profunda leitura que Sartre faz do significado dos atentados, ele que nunca tendo sequer posto os pés na Argélia não correu o risco de cair aos pedaços sob uma bomba libertadora, fica-me a questão: se a bomba explodisse numa esplanada de Montparnasse entre duas baforadas do seu belo cachimbo, lhe amputasse as pernas e matasse alguns próximos, incluindo crianças e familiares, seria que manteria inalteradas estas suas “teorias teóricas”?
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