02 fevereiro 2007

Eufemismo

Se em vez de “pobreza”, se dissesse CMBS (Carência de Meios Básicos de Subsistência) ? Seria óptimo, porque acabaríamos com os pobres! E se em vez de se dizer “analfabetismo” se inventasse uma ILE (Insuficiência em Leitura e Escrita)? Deixaríamos de ter analfabetos no país!

Isto a propósito da sigla IVG. Porque não continuar a chamar-lhe mesmo o que é: “aborto”?! Porque é necessário criar e invocar este eufemismo? Para amaciar o carácter brutal da palavra? Será que, para discutir o aborto, o primeiro passo é chamar-lhe outra coisa?

Confesso que a minha posição sobre a aborto é clara quando aplicada numa perspectiva pessoal, mas pouco definida quanto a definir uma regra geral. No entanto, não posso aceitar nem entender muitos dos disparates que se dizem de ambas as partes. Por exemplo, não posso aceitar que a mulher tenha “direitos” plenos sobre a sua procriação nem que a actividade sexual só possa existir em contexto de “procriação”.

Quando os adeptos do sim dizem que é mais digno a criança não nascer do que nascer sem haver condições afectivas ou económicas para a criar, esquecem uma coisa: se uma família deixar de ter essas condições depois da criança nascer, também se aplica a mesma lógica? Claro que não! Como se define então o tempo limite para o aborto? Porquê “x” semanas e não “y” ?

Por tudo isto, nunca se poderá chamar digna a opção do aborto e a sua banalização jamais será aceitável

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