08 fevereiro 2007

Ainda o aborto: moderno ou retrógrado?

Tenho a sensação de que não acompanhei bem esta campanha. Parece-me, no entanto, que a principal novidade relativamente à última é uma certa falência na argumentação do “sim”.

Utilizar a argumentação sócio-económica para justificar a inevitabilidade do aborto e, por consequência, se tem que haver, que seja legal, é, na minha opinião, inaceitável. Os problemas de carências afectivas, maus tratos e más condições em geral na criação de uma criança resolvem-se não a deixando nascer? E para as que já nascerem e que sofrem desses problemas? Suprimem-se? É claro que não, porque se trata de um vida.

Está bom de ver que a questão toda está quando começa essa vida. Parece óbvio que uma semana antes de nascer, não faz sentido, a vida já existe. E 3 meses antes? Também não! E 6 meses? E 7 meses? Onde fica essa fronteira? Porque raio 10 semanas e não 5 ou 20 ou 12 ou .. zero ? Que se passa de especial para justificar essa fronteira dessas 10 semanas?

Evidentemente que uma gravidez indesejada pode transformar e transtornar profundamente uma vida ou uma família mas as soluções drásticas têm que ser justificadas num balanço global de prós e contras considerando todas as implicações e alternativas. Justifica-se restaurar a pena de morte para evitar que um assassino perigoso cometa mais crimes? Justifica-se acabar com as penas de prisão em geral dado que, muito frequentemente, elas propiciam um agravamento do perfil criminoso de quem lá passa uns anos?

Pondo de lado toda a questão religiosa, acho que, sabendo o que se sabe hoje, do ponto de vista puramente civilizacional, o aborto não é “moderno”. Julgo que virá um tempo em que o aborto será considerado uma prática bárbara do passado. A história o dirá.

4 comentários:

Anónimo disse...

Eu atrevia-me a dizer que há várias coisas por explicar na pergunta que vai a referendo.
A primeira é logo essa fronteira das 10 semanas.
Ninguém explica e acho díficil que o comum dos mortais consiga entender de onde vem esse numero.

Se o desenvolvimento de um ser humano é continuo, então eu pergunto :
se começarmos nos 9 meses de gestação e andarmos para trás, 9 meses menos 1 dia,
9 meses menos 2 dias ... por aí fora até 11 semanas, 11 semanas menos 1 dia, 11 semanas menos 2 dias ...
quem é capaz de honestamente dizer : - é aqui a fronteira!

A segunda questão é '... a pedido da mulher'. Mas porquê?
Alguém alguma vez aprovou alguma lei que dissesse '.. é permitido ... a pedido de ... '???
Ou é permitido, ou não é ! Estão a tentar proteger quem ?

Além disso, não entendo o que fizeram ao papel do pai.
É a mulher que 'aguenta' nove meses ? Claro! É assim. Faz parte da natureza! Não pode ser alterado.
É a mulher que sofre o trabalho de parto ? É assim. Faz parte da natureza! Não pode ser alterado.
Mas isso deve ser entendido como um PRIVILÉGIO ÚNICO e não como um sacrificio como os defensores
do SIM querem fazer parecer.
E depois de nascer ? Não são o pai e a mãe que têm o DEVER de alimentar, educar, etc ... ?
Conclusão : um pai tem o DEVER de alimentar e educar um filho SE a mãe decidiu, sozinha, que essa criança ía nascer ! É justo !!!!??

A esta pergunta a resposta é definitivamente NÂO!

Anónimo disse...

Governo deve tomar medidas em vez de pedir ao povo a solução

Não !

Não à legalização do aborto através da falsa bandeira (engodo) da despenalização !

A despenalização do aborto é outra forma enganadora de combater o aborto. O número de interrupções de gravidez, no mínimo, triplicará (uma vez que passa a ser legal) e o aborto clandestino continuará - porque a partir das 10 semanas continua a ser crime e porque muitas grávidas não se vão servir de uma unidade hospitalar para abortar, para não serem reconhecidas publicamente.
O governo com o referendo o que pretende é lavar um pouco as mãos e transferir para o povo a escolha de uma solução que não passa, em qualquer uma das duas opções, de efeito transitório e ineficaz.
Penso que o problema ficaria resolvido, quase a 90 %, se o governo, em vez de gastar milhões no SNS, adoptassem medidas de fundo, como estas:

1 – Eliminação da penalização em vigor (sem adopção do aborto livre) e, em substituição, introdução de medidas de dissuasão ao aborto e de incentivo à natalidade – apoio hospitalar (aconselhamentos e acompanhamento da gravidez) e incentivos financeiros. (Exemplo: 50 € - 60 € - 70€ - 80€ - 90€ - 100€ - 110€ - 120€ -130€, a receber no fim de cada um dos 9 meses de gravidez). O valor total a receber (810€) seria mais ou menos equivalente ao que o SNS prevê gastar para a execução de cada aborto. (*)

2 – Introdução de apoios a Instituições de Apoio à Grávida. Incentivos à criação de novas instituições.

3 – Introdução/incremento de políticas estruturadas de planeamento familiar e educação sexual.

4 – Aceleração do "Processo de Adopção".


(*) Se alguma mulher depois de receber estes incentivos, recorresse ao aborto clandestino, teria que devolver as importâncias entretanto recebidas (desincentivo ao aborto). [Não sei se seria conveniente estabelecer uma coima para a atitude unilateralmente tomada, quebrando o relacionamento amistoso (de confinaça e de ajuda) com a unidade de saúde].

Estou para ver se os políticos vão introduzir, a curto prazo, algumas deste tipo de medidas. É que o povo, mais do que nunca, vai estar atento à evolução desta problemática.

Maria Manuel disse...

Pelas mesmíssimas razões, essas mesmo da “barbaridade” que aqui apresentas, uns votarão sim, outros votarão não.
Creio que verdadeiramente a favor do aborto deve haver muito pouca gente.
Mas o aborto existe. Se o não, em vigor, tivesse sido capaz de acabar com a sua prática já nem necessidade de referendo haveria. Encarar a realidade dos factos, sem descurar os princípios. Saber e acompanhar os casos. Formar. Prevenir.
Há, fatalmente, alguma arbitrariedade no prazo das 10 semanas, como em todas as fronteiras artificialmente estabelecidas.

APC disse...

Entre ter um filho por amor ou por azar, vai uma distância. E isso parece importar.