28 fevereiro 2007

Ridicularias

Num daqueles varrimentos do espectro da FM a ver o que por lá há, aterrei numa rádio local de uma dessas terras de vinho verde.

Um locutor com voz meia de banda sonora de filmes dos anos cinquenta, meia de quem descansa de um relato de futebol ia lendo mensagens escritas. E lá vinham as declarações rimadas com procurar, achar, amar e enfim... Sorri com uma ironia a fugir para o desdém de tanta pobreza expressiva e pirosice.

Num segundo tempo, lembrei-me que alguém tinha tido o trabalho de procurar dizer uma coisa bonita ao/à amado/a. Tinha saído foleiro porque talvez não desse mais, mas, como dizia um dos portugueses dos 10 finalistas do concurso dos “Grandes Portugueses”, e este com pleno mérito: todas as cartas de amor são ridículas.

Os grandes poetas escrevem magníficas cartas de amor que são publicadas em livros bonitos e caros; outros escrevem sms foleiros rimados em “ar” que passam na rádio local. Mas, no fundo, no fundo, é a mesma coisa.
Ridículo não é rimar em "ar", mas sim nunca ter rimado...

3 comentários:

Anónimo disse...

Este 'pequeno' artigo não fala de grandes feitos nem de grandes problemas mundiais.
Não necessita de grandes conhecimentos e de uma grande cultura geral para o escrever.
É um artigo simples que fala só de sentimentos.
E está lindo!

Antes de mais está escrito com uma franqueza muito "doce".
Com o reconhecimento de um sentimento de repulsa e de algum desprezo por pessoas que estavam
só e simplesmente a demonstrar o seu amor de uma forma 'diferente!'. Da sua forma ...
Mas no final a reconhecer que o ridiculo é não o fazer.
Soubesse-mos todos nós, viver e sentir o nossos amores com tanta liberdade como essas pessoas.
Eramos com toda a certeza pessoas mais felizes.

M. disse...

Se calhar é...

APC disse...

"Belo é o que agrada sem conceito” (Kant).