26 fevereiro 2006

O custo da gestão do Metro do Porto

Tenho visto recentemente notícias sobre o resultado de uma análise feita pela Inspecção Geral de Finanças à empreitado do Metro do Porto, bastante arrasadora, pelo menos na perspectiva dos destaques apresentados.

Uma coisa que me chocou foi a IGF considerar excessivos os vencimentos dos gestores da comissão executiva, nomeadamente um de 180 mil euros e dois de 110 mil euros. Poderá parecer excessivo a muita gente mas analisado por quem sabe, ou deveria saber, essa conclusão só pode ser devida a ignorância ou demagogia. O vencimento de um gestor não é fruto de um decreto mas sim do mercado de trabalho. Se empresas privadas, de dimensão inferior, que não têm por hábito deitar dinheiro fora, pagam esses valores e até mais, porque razão a IGF há-de decretar os valores excessivos? Que tipo de pessoas se procuram? Se um gestor não serve, 100 mil euros é excessivo, assim como serão 50 mil ou 20 mil.

É inequívoco que a qualidade da gestão de topo é fundamental para o resultado de qualquer empresa. Veja-se o exemplo “incómodo” da TAP que quando deixou de ser gerida por comissários políticos, mudou da “água para o vinho”. Também me parece ser consensual que na gestão do Metro do Porto se podem identificar duas fases distintas: antes e depois da actual comissão executiva. Anedota era uma das noticias ter em subtítulo que “Desastre orçamental leva Governo a ponderar tomar conta da empresa”. O que será o “governo tomar conta”? Será colocar lá os seus “gestores” que não conseguem entrar na TAP!?

23 fevereiro 2006

A liberdade de expressão

Ao mesmo tempo que, encarniçadamente, o nosso mundo depende o direito sagrado à liberdade de expressão, nos USA os gigantes da Internet Google, Yahoo, Microsfot e Cisco são questionados pela sua “colaboração” com o governo chinês. Assim, por exemplo, o motor de busca da Microsoft na China não responde a termos como “liberdade”, “democracia” e “direitos do homem”. O Google não permite a acesso a meios de comunicação considerados subversivos por Pequin. Um jornalista foi condenado a 10 anos de prisão com a colaboração da Yahoo que ajudou as autoridades a encontrá-lo a partir do seu endereço de correio electrónico. Enfim…diferenças culturais!

21 fevereiro 2006

Diferenças culturais

Segundo noticia o “The New York Times” de 16.02.2006, a empresa chinesa Lifan procura comprar uma fábrica de motores de automóveis de alta tecnologia em Campo Alegre no Brasil, desmontá-la e montá-la de novo na China. A fábrica brasileira em questão é fruto de uma associação da BMW com a Chrysler e que, estrategicamente, ficou órfã após a fusão da Chrysler com Daimler (Mercedes).

Até agora os chineses não conseguiram desenvolver localmente motores eficientes e fiáveis e isso tem limitado a sua capacidade para exportar automóveis para mercados mais sofisticados como a Europa e os USA . Por isso ponderam a compra desta fábrica que, entre outros, produz os motores que equipam o Mini Cooper S.

A Lifan, propriedade do Sr Yin Mingshan, consegue fabricar pequenos automóveis familiares que com estofos de couro, airbags, sistema de reprodução de DVD e etc. custam cerca de 8000 Euros. Um operário na Lifan ganha menos de 85 Euros/mês. Acrescenta o Sr Yin Mingshan que, "enquanto nos USA um operário trabalha 8 horas por dia e 5 dias por semana, na China os operários trabalham 16 horas por dia e 7 dias por semana".

Diferenças culturais ... !

O que eu aposto é que com os automóveis não será igual aos têxteis e aos televisores.

19 fevereiro 2006

É uma OPA portuguesa, concerteza!

A OPA da Sonae sobre a PT foi e está a ser um grande acontecimento mediático. Dos tais que “obriga” toda a gente a dizer algo, mesmo que não tenha nada de novo a acrescentar.

Uma das perspectivas que eu acho ingenuamente muito interessante é o argumento da Sonae ser portuguesa e isso ser importante para o controlo de uma empresa estratégica como a PT. Alguns até valorizam o facto de ter a sede a norte do Mondego.

Esquecem-se que a Sonae, como outra empresa qualquer, se quer comprar a PT é por achar que se trata de um bom negócio. Porque espera ganhar dinheiro com a operação. E pode ganhar com os resultados da PT ao longo do tempo ou revendendo a um certo prazo, inteira ou aos pedaços. Não acredito que vá colocar o interesse da PT para a economia do país à frente do interesse da PT para a suas próprias contas.

Não acho que seja importante ter “centros de decisão nacionais” sem mais. Muito menos se isso servir para dar albergue a profissionais gestores dessa carreira. Agora, o que me parece indiscutível, é que para a criação de riqueza e governo do país, há coisas que temos que ser nós a definir e a controlar. Indo aos limites, que ajudam a entender os princípios, será que os EUA aceitariam que a Lockheed Martin, seu principal fornecedor militar, fosse comprada pela Airbus? Será que a Inglaterra aceitaria ver as suas reservas energéticas e rede de distribuição controladas pela Gazprom russa? Será que a França aceitaria ver a SNCF, os seus caminhos de ferro, nas mãos de um fundo de investimento americano?

Serão todas estas questões puramente económicas? Não! Há aspectos que são políticos. Para alguma coisa temos governo, não é? Não é só para elaborar e executar o orçamento de estado controlando o défice. Se acharmos que a infra-estrutura de comunicação do país é um assunto de interesse público, não é certamente por a Sonae, portuguesa por enquanto, a vir a comprar que podemos ficar tranquilos. E, já agora, alguém me poderá explicar como a fusão da Optimus com a TMN poderá não levantar um problema de concorrência!? Este, pelo menos, é um assunto importante para a criação de riqueza no país.

17 fevereiro 2006

Admirável



A felicidade é fruto de um estado de abstracção. O desgraçado nada esquece, o imbecil em nada repara.

E depois há os loucos, que se abstraem do que não devem...

E como já é hábito, eu oscilo. Entre uma triste abstracção e uma imbecilidade desgraçada.

15 fevereiro 2006

Ajuda humanitária

A ajuda humanitária é uma causa nobre que deve ser regida com ética e rigor irrepreensíveis. É absolutamente inaceitável utilizar o pretexto da ajuda aos pobres em proveito próprio.

Recentemente vi na televisão o anúncio da partida de Lagoa de 3 ou 4 veículos todo-o-terreno, todos catitas, que iam atravessar África para levar umas esferográficas e umas coisitas mais para escolas da Guiné Bissau. O “jornalista” foi incapaz de perguntar o porquê daquele disparate de ir por terra. Qual a percentagem do valor do material a ser entregue no custo total da operação? Quanto custaria fazer chegar o material por via marítima, ou até mesmo por via aérea?

Aqueles senhores foram fazer uma espécie de “Lisboa-Dacar” à custa das crianças pobres da Guiné. Uns verdadeiros heróis altruístas. É completamente revoltante e estranho que não seja desmascarado. Que seja apresentado como um “bom exemplo” num telejornal.

Mais do que este caso que de tão despropositado não deixa margem para dúvidas, também se ouvem com frequência histórias de ONG’s que gastam 90% da sua receita em despesas de funcionamento. Não pode ser! É imoral!

10 fevereiro 2006

Lobby

Não gosto da palavra lobby, nem sequer da versão portuguesa. Literalmente significa vestíbulo, do inglês, e fazer “lobby” é andar por antecâmaras de parlamentos para influenciar os deputados no sentido de votarem as suas causas.

Tudo nesta vida tem um custo e, por isso, os “lobbyistas” trazem prendas nas algibeiras. Mais ou menos materiais, mais ou menos disfarçadas. O que quer dizer que quem distribui prendas nos corredores tem melhores probabilidades de ser atendido nas suas preces. Atendidos por deputados democraticamente eleitos.

No mundo que eu imagino, esta função não tem cabimento. Nesse grande país em que muita coisa se passa que são os USA, um lobbyista caiu um desgraça porque se provou que exagerou nas prendas e no sistema.

Recebia dinheiro das tribos índias que distribuía por congressistas, após retirar a sua comissãozita. Após o escândalo rebentar, os congressistas que tinham recebido o dinheiro, resolveram lavar as mãos, distribuindo-o a organizações de “bem fazer”. As viagens e os torneios de golfe já não puderam devolver. No final, os índios não gostaram e acharam injusto. Porque rejeitavam o seu dinheiro? Assim, ficavam sem quem defendesse os seus interesses. Ou seja, “no money, no rights”. E em democracia, claro.

Isto aconteceu só porque o senhor esperto exagerou mas, aparentemente, é normal, é “sistema”. Algo está podre nestes corredores…

07 fevereiro 2006

Ingenuidade arrogante

Declaro, para começar e ser claro, que gosto muito de viver na Europa e que não gostaria nada de viver na Síria ou no Irão.

Se houver uma disputa em curso, não há duvida nenhuma de que estamos muito à frente economicamente e humanisticamente e, por isso mesmo, não devemos, nem necessitamos, ser arrogantes. Eles sabem bem que estamos à frente e pode ser muito perigoso humilhar quem se sente diminuído. Os grandes devem ser magnânimos, não mesquinhos, e firmeza não se deve confundir com altivez.

Os desenhos controversos foram publicados em Setembro passado. A contestação aparece agora no momento em que a comunidade internacional aperta a Síria pelo seu programa nuclear. Será coincidência? Ao deixar crescer a polémica e ao comprar esta guerra estamos a ser ingénuos.

Há gente perigosa do “lado de lá”, mas também há muita gente muito miserável. E é para estes últimos que temos que olhar e decidir se estamos contra ou se estamos com eles. Invocamos a liberdade de expressão à mesa de um café. Importantíssimo, claro! Mas, esquecemos que gastamos mais nesse café do que os desgraçados que queimam as bandeiras da Dinamarca têm para se alimentarem cada dia. Falamos da bondade da nossa democracia, quando esse democracia, nesses países, não parece conduzir a nada de bom. Uma vez mais, ingénuos.

Há um problema em curso que pode ter repercussões terríveis conforme Nova Iorque, Madrid e Londres já testemunharam,. E é um problema tão grande que não deveria dar espaço para ingenuidades.

05 fevereiro 2006

Manifesto



A minha ambição é nula, porque a minha utopia é desmedida.
Estar solitário embrutece, desperta uma demência que me assusta.
Não me quero destacar, quero a humanidade encantar, coisas simples aprofundar. Quero apenas ser um entre pares, amando, ouvindo e chorando

Como obra, o mundo inteiro, com uma gargalhada abraçar.

03 fevereiro 2006

Conhecimento e realização

Para repetir o que vem nos livros, basta ter boa memória.
Para entender verdadeiramente o que está escrito, é necessário algo mais.
Para avaliar a sua aplicação a cada caso específico, é necessário algo mais.
Para definir o que fazer concretamente... algo mais.
Para implementar o definido e levá-lo até ao fim.. algo mais.
Para conclui-lo com sucesso… algo mais.

Donde que … quem se limita a repetir o que vem nos livros, está longe, muito longe…

01 fevereiro 2006

Eles levam tudo…

Era o que nos faltava! Depois de nos levarem os têxteis, as confecções e outras coisas mais, os chineses querem levar-nos agora o mérito de Bartolomeu Dias, Vasco da Gama e Fernão de Magalhães (Colombo nem vale a pena referir, porque é uma história mal contada).

Segundo o muito respeitável “The Economist” de 14 de Janeiro noticia, um mapa chinês, potencialmente de 1418, de um navegador chamado Zheng He, mostra o mundo todinho e redondinho muito antes do nosso Infante D. Henrique ter organizado uma das primeiras empresas científicas da humanidade. Sim, porque as descobertas portuguesas não são fruto de um acaso ou de uma expedição venturosa. Foram muito cientificamente sistematizadas. Ir, recolher informação, regressar, estudar e voltar a partir para ir mais longe.

Na minha modesta opinião, a reprodução do mapa que aparece na revista parece ter mundo a mais para poder ter sido descoberto por um só navegador.

Veremos o que se conclui sobre o mesmo. Se até agora as descobertas portuguesas tinham uma pequena página na história da humanidade fora de Portugal, depois disto correm o risco de desaparecer mesmo.

Isto, a ser verdade, trará mais prejuízo para o país do que o encerramento da Autoeuropa…