19 junho 2006

O Jogo das Contas de Vidro



Em homenagem a um dos mais profundos, densos e assombrosos romances que já li, deixo aqui um dos poemas de Josef Knecht, protagonista de “O Jogo das Contas de Vidro” de Hermann Hesse. Uma obra nem sempre fácil de ler mas verdadeiramente genial.


Degraus

Assim como as flores murcham e a juventude
Cede à velhice, também os degraus da vida,
A sabedoria e a virtude, a seu tempo,
Florescem e não duram eternamente.
A cada apelo da vida deve o coração estar pronto
A despedir-se e a começar de novo
Para, com coragem e lágrimas, se dar
A outras novas ligações.
Em todo o começo reside um encanto
Que nos protege e ajuda a viver.
Serenos transponhamos espaço após espaço,
Não nos prendendo a nenhum como a um lar;
Ser-nos corrente ou parada não quer o espírito do mundo
Mas de degrau em degrau elevar-nos e aumentar-nos.
Mal nos habituamos a um círculo de vida,
Íntimos ameaça-nos o torpor;
Só aquele que está pronto a partir e parte
Se furtará à paralisia dos hábitos.

Talvez também na hora da morte
Nos lance, jovens, para novos espaços,
O apelo da vida nunca tem fim…
Vamos, coração, despede-te e cura-te.



Nota: A imagem incluída é uma fotografia “normal”. Num cenário nocturno e com um longo tempo de exposição, a câmara foi deslocada propositadamente, criando este efeito dinâmico.

1 comentário:

APC disse...

Faz tanto sentido, que chega a fazê-lo todo.
Vive procurando, achando, gozando a conquista durante o tempo em que a amares; e assim que isso esmorecer despede-te, parte e segue, procurando, achando, gozando... Vivendo.