18 setembro 2005

Cabedelo do meu tempo



Atravessada na foz, uma língua de areia. Duna frágil e instável. Desafia a corrente do rio, sustendo o ímpeto das vagas. Possivelmente que, se um deles falhasse, não sobreviveria e de resistir desistiria.

Muralha frágil. Água doce, água salgada. Ilógico recorte. Mas que está.
Assim como eu estou, moído de pancada, entre a corrente do meu tempo, inexorável a desaguar, e o vaivém dos dias que me bate na cara.

O rio constante marcando a irreversibilidade do fim e o mar cíclico de ondas e marés recomeçadas.

Cabedelo do meu tempo, heroísmo angustiado de aguentar e de poder escolher para que lado me afogar.

Ou ficar por enquanto só, parado, isolado, na imensidão dos dois lados.
Entre o fim de um curso e o instintivo refazer das vagas

4 comentários:

Titá disse...

O Texto está lindo!A fotografia como sempre, fantástica.... Mas confesso que até fiquei com o coração apertado de o ler assim.
Espero que esta semana lhe traga mais optimismo e felicidade.
Um beijo

CLÁUDIA disse...

O texto parece impregnado de uma dualidade escondida por detrás das palavras que nos são dadas a ler.
O início e o fim, a irreversibilidade e a eterna possibilidade...lado a lado.

Será o texto a ante-câmara de uma escolha?

Beijo ***

Carlos Sampaio disse...

Claudia

Dualismo sem duvida. Mas daquele permanente, irresoluvel e nao passivel de opçao

(e desculpem la a falta de acentuaçao...)

M. disse...

Gostei da dualidade entre ti e a Natureza. Interessante a comparação.