10) Os petrodólares
Após o fim do califado, deixou de existir um líder global do
mundo muçulmano. Tentativas de ocupar o lugar não faltaram. Gamal Nasser, a
partir do Egito, sonhou com um “pan-arabismo” que voltasse a reunir todos
aqueles povos. O rei Hussein da Jordânia, invocando que a sua ascendência
chegava a Maomé, também com isso sonhou. Penso que terá sido por essa ambição que
a Jordânia permaneceu na Cisjordânia, após a guerra da independência de Israel,
orgulhosamente controlando o Jerusalém histórico e impedindo a formação na
altura do tal Estado Palestiniano, de que tanto se tem falado depois.
No centro da península arábica, entretanto tornada saudita,
estão os locais originais da religião. Meca, a Meca, e Medina, a cidade de onde
a expansão começou e onde está sepultado Maomé. Os sauditas têm pretensões a
exercerem algum tipo de liderança sobre toda a comunidade muçulmana.
Após a guerra do Yom Kippur de 1973 e do choque petrolífero,
as receitas do ouro negro disparam. Os sauditas estão ricos e têm os meios de
tentar concretizar as suas pretensões. Como habitualmente compram tudo feito,
vão imprimir a cartilhas da Irmandade Muçulmana, que não anda muito longe do
seu credo rigoroso wahabita, vão construir escolas/madraças e pagar professores/imanes
para isso ensinaram.
Portanto... temos um terreno fértil que são as desilusões pós-independências;
temos as sementes na ideologia salafista e acrescenta-se a irrigação com os petrodólares.
Estão criadas as condições para o desabrochar das radicalizações.
Convém referir que as relações da Irmandade com as
monarquias do golfo, não são continuamente estáveis. Há alturas em que o poder
sente que ela tem demasiada influência e ambição, os ameaçam e zangam-se. Neste
momento com o Qatar está tudo bem e com os sauditas está tudo mal… amanhã, logo
se vê.
Começou aqui
Continua ...
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