03 outubro 2025

Olhando o Islão (X)


10) Os petrodólares

Após o fim do califado, deixou de existir um líder global do mundo muçulmano. Tentativas de ocupar o lugar não faltaram. Gamal Nasser, a partir do Egito, sonhou com um “pan-arabismo” que voltasse a reunir todos aqueles povos. O rei Hussein da Jordânia, invocando que a sua ascendência chegava a Maomé, também com isso sonhou. Penso que terá sido por essa ambição que a Jordânia permaneceu na Cisjordânia, após a guerra da independência de Israel, orgulhosamente controlando o Jerusalém histórico e impedindo a formação na altura do tal Estado Palestiniano, de que tanto se tem falado depois.

No centro da península arábica, entretanto tornada saudita, estão os locais originais da religião. Meca, a Meca, e Medina, a cidade de onde a expansão começou e onde está sepultado Maomé. Os sauditas têm pretensões a exercerem algum tipo de liderança sobre toda a comunidade muçulmana.

Após a guerra do Yom Kippur de 1973 e do choque petrolífero, as receitas do ouro negro disparam. Os sauditas estão ricos e têm os meios de tentar concretizar as suas pretensões. Como habitualmente compram tudo feito, vão imprimir a cartilhas da Irmandade Muçulmana, que não anda muito longe do seu credo rigoroso wahabita, vão construir escolas/madraças e pagar professores/imanes para isso ensinaram.

Portanto... temos um terreno fértil que são as desilusões pós-independências; temos as sementes na ideologia salafista e acrescenta-se a irrigação com os petrodólares. Estão criadas as condições para o desabrochar das radicalizações.

Convém referir que as relações da Irmandade com as monarquias do golfo, não são continuamente estáveis. Há alturas em que o poder sente que ela tem demasiada influência e ambição, os ameaçam e zangam-se. Neste momento com o Qatar está tudo bem e com os sauditas está tudo mal… amanhã, logo se vê.

Começou aqui

Continua ...

Sem comentários: