09 outubro 2025

Olhando o Islão (XI e final)


11) Quo vadis Islão

Como é óbvio, a larga maioria dos muçulmanos não são violentos e gostariam apenas de viver a sua religião em paz com eles e com o mundo, mas há um contexto problemático:

a)       Na sua génese, a religião, que simultaneamente cria um Estado, é muito regulamentar e algumas regras necessitam de revisão com as evoluções sociais

b)       A ausência de uma figura ou instituição globalmente reconhecida que lidere e contextualize e adapte as regras aos novos tempos

c)       A existência dos salafistas, sempre prontos a assinalar falta, a mobilizar as massas e a desafiar o poder cada vez que há um cheiro de mudança

Alguns exemplos simples

Há 14 séculos, uma mulher fazer-se sozinha à estrada de Meca para Medina corria sérios riscos de acabar mal. Nesse contexto, por essa razão, faria sentido decretar que uma mulher não devia viajar sozinha. Hoje, se essa regra for aplicada sem contextualização, acontece o seguinte. Uma muçulmana quer deslocar-se do Porto a Lisboa para encontrar amigos, visitar uma exposição ou assistir a um espetáculo e

·       Ou vai na mesma sozinha e não cumpre os preceitos da sua religião, problema de consciência

·       Ou é obrigada a arranjar uma companhia masculina, humilhante

·       Ou desiste de viajar, frustrante.

Não há saída digna, além de existirem vários outros pontos do Corão onde é explicitada a inferioridade da mulher face ao homem, o que não é destes tempos atuais.

Há 14 séculos a escravatura era algo de perfeitamente comum naquela sociedade (sim, não nasceu com os europeus no Atlântico, mas isso não é tema aqui). No Corão, há um conjunto de definições e regras relativas a este estatuto, perfeitamente natural e aceite na época. Quando uns séculos mais tarde, alguém diz que a escravatura deve ser abolida, isso vai encontrar resistência. Se no livro sagrado ela é permitida e regulamentada, com que direito vamos mudar isso? Entre os males e os bens da colonização europeia, é ela que irá forçar essa abolição. Na Mauritânia, ali abaixo de Marrocos, ela foi oficialmente abolida apenas em 1981. A prática parece ser outra coisa.

Qual a saída, não sei. Na Europa vivemos um processo de disrupção e da separação da Igreja das estruturas do Estado a partir do século XIX. Envolveu revoluções e algumas ações nem sempre razoáveis e justas, mas funcionou.

O Islão necessita de resolver dois problemas interligados. Um é a revisão/atualização de aspetos regulamentares anacrónicos e ter liderança reconhecida para isso. Uma referência a Marrocos. O rei, que é respeitado e reconhecido, é simultaneamente o “Comandante dos crentes”, o que permite alguma legitimação da legislação que toque aspetos religiosos.

O outro aspeto é o islamismo ou a religião usada como ferramenta política. Não tenhamos dúvidas. A larga maioria dos que buscam o poder, usarão todas as ferramentas disponíveis para alcançar os seus objetivos. Enquanto a alavanca da religião funcionar, não faltará quem a utilizará. Como se resolve isto e se anula… não sei !!

E lamento não poder concluir de forma mais assertiva.

Começou aqui ... e acabou.

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