11) Quo vadis Islão
Como é óbvio, a larga maioria dos muçulmanos não são
violentos e gostariam apenas de viver a sua religião em paz com eles e com o
mundo, mas há um contexto problemático:
a)
Na sua génese, a religião, que simultaneamente
cria um Estado, é muito regulamentar e algumas regras necessitam de revisão com
as evoluções sociais
b)
A ausência de uma figura ou instituição
globalmente reconhecida que lidere e contextualize e adapte as regras aos novos
tempos
c)
A existência dos salafistas, sempre prontos a assinalar
falta, a mobilizar as massas e a desafiar o poder cada vez que há um cheiro de
mudança
Alguns exemplos simples
Há 14 séculos, uma mulher fazer-se sozinha à estrada de Meca
para Medina corria sérios riscos de acabar mal. Nesse contexto, por essa razão,
faria sentido decretar que uma mulher não devia viajar sozinha. Hoje, se essa
regra for aplicada sem contextualização, acontece o seguinte. Uma muçulmana
quer deslocar-se do Porto a Lisboa para encontrar amigos, visitar uma exposição
ou assistir a um espetáculo e
·
Ou vai na mesma sozinha e não cumpre os
preceitos da sua religião, problema de consciência
·
Ou é obrigada a arranjar uma companhia masculina,
humilhante
·
Ou desiste de viajar, frustrante.
Não há saída digna, além de existirem vários outros pontos
do Corão onde é explicitada a inferioridade da mulher face ao homem, o que não
é destes tempos atuais.
Há 14 séculos a escravatura era algo de perfeitamente comum
naquela sociedade (sim, não nasceu com os europeus no Atlântico, mas isso não é
tema aqui). No Corão, há um conjunto de definições e regras relativas a este
estatuto, perfeitamente natural e aceite na época. Quando uns séculos mais
tarde, alguém diz que a escravatura deve ser abolida, isso vai encontrar
resistência. Se no livro sagrado ela é permitida e regulamentada, com que
direito vamos mudar isso? Entre os males e os bens da colonização europeia, é
ela que irá forçar essa abolição. Na Mauritânia, ali abaixo de Marrocos, ela
foi oficialmente abolida apenas em 1981. A prática parece ser outra coisa.
Qual a saída, não sei. Na Europa vivemos um processo de
disrupção e da separação da Igreja das estruturas do Estado a partir do século
XIX. Envolveu revoluções e algumas ações nem sempre razoáveis e justas, mas
funcionou.
O Islão necessita de resolver dois problemas interligados.
Um é a revisão/atualização de aspetos regulamentares anacrónicos e ter
liderança reconhecida para isso. Uma referência a Marrocos. O rei, que é
respeitado e reconhecido, é simultaneamente o “Comandante dos crentes”, o que
permite alguma legitimação da legislação que toque aspetos religiosos.
O outro aspeto é o islamismo ou a religião usada como
ferramenta política. Não tenhamos dúvidas. A larga maioria dos que buscam o
poder, usarão todas as ferramentas disponíveis para alcançar os seus objetivos.
Enquanto a alavanca da religião funcionar, não faltará quem a utilizará. Como
se resolve isto e se anula… não sei !!
E lamento não poder concluir de forma mais assertiva.
Começou aqui ... e acabou.
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