08 abril 2016

De atentados, não tenho medo…

Os recentes atentados em Bruxelas apanharam-me na Argélia, onde, no passado, já ouvi explosões idênticas (apenas ouvi). A mesma Bruxelas em que, há cerca de 20 anos, todas as manhãs eu subia a Rue de la Loi, onde se encontra a estação atacada de Maelbeek. Talvez por isso acompanhei as notícias … com uma atenção especial, que procuro não chamar doentia.

Devo dizer, no entanto, não recear particularmente os atentados e não prevejo mudar um milímetro dos meus hábitos por causa dessa ameaça. Pragmaticamente falando, a probabilidade de ser um dia atropelado ao circular pela estrada de bicicleta é bastante mais elevada e não irei deixar de o fazer por isso.

Preocupa-me, sim, outro tipo de ameaça. De num belo fim de tarde sentar-me numa esplanada em frente ao mar, pedir uma cerveja e ser informado que não a podem servir. Proibido mesmo não é, mas há um novo local de culto próximo e o proprietário do estabelecimento não quer confusões. Face ao meu olhar desolado, propõe-me servir a cerveja numa caneca opaca, desde que eu prometa ter cuidado para não ficar com espuma visível nos lábios.

Estando o tempo tão agradável, decido organizar um churrasco para o dia seguinte. Ao passar no meu talho habitual e pedir salsicha fresca, carne entremeada e essas coisas do costume, sou informado de que já não vendem carne de porco. Proibido mesmo não é, mas como todos os talhos da cidade decidiram não a vender, este também não teve outra opção, para não perder uma parte significativa da clientela. Face ao meu olhar desolado, o talhante lá toma nota do pedido e, passado alguns minutos, regressa com as salsichas e afins bem embrulhadas, tudo convenientemente identificado com uma etiqueta falsa. Pela segunda vez, em pouco tempo, estou a sentir-me estranhamente clandestino.

Neste momento, alguém pensará que devo estar maluco. Não estar preocupado com poder tornar-me carne picada e sim com uma simples etiqueta falsa? Não, não estou maluco. A cerveja e a carne de porco serviram apenas de ilustração simples. Há outros aspetos mais significativos como, por exemplo, a liberdade de expressão e a condição feminina em que pode estar em causa uma mudança radical da nossa sociedade. Existe uma dinâmica com origem no Médio Oriente, buscando estabelecer uma cultura medieva arcaica, dominante, de submissão, cujo impacto vai para lá de um simples ataque terrorista. Nem todos os muçulmanos aderem a esse projeto e alguns serão apenas vítimas de uma manipulação feita em cima da sua identidade comunitária, explorando desencantos de origens várias Mas que tenho medo disso, tenho…

2 comentários:

Anónimo disse...

O autor do blog tem toda a razão.
Eu vou ainda mais longe. Um dia, as nossas parcas, mas necessárias reformas podem encolher ainda mais... Ninguém nos vai explicar que é necessário financiar os milhares e milhares que nos invadem! (é preciso alojá-los, alimentá-los, "educá-los"...)Dirão, isso sim, que a população envelheceu, já não há tanta gente a descontar, as despesas são muitas... etc etc.
E nós, que desenvolvemos a Europa, a ponto de a tornar tão cobiçada, lá vamos cedendo hoje isto, amanhã aquilo, sempre em nome da "sociedade multi cultural"e abrindo caminho a uma Europa muçulmana. Os políticos não me convencem. Sou dos que acreditam que a crescente comunidade muçulmana nunca se adaptará totalmente à nossa maneira de viver, livre e democrática (o véu é um exemplo disso). A dinâmica que busca criar uma cultura medieval e arcaica já está cá!

Carlos Sampaio disse...

Bom dia

Relativamente ao comentário anterior, concordo na generalidade, mas penso que a vertente económica direta, pelo menos em Portugal, não será uma ameaça próxima. Nessa perspetiva alguns poderão dizer que alguns migrantes vêm para trabalhar e farão descontos para pagar as reformas da população envelhecida.

Creio que o problema fundamental é na dimensão cultural. A Europa tem uma identidade que faz dela a "nossa casa". A evolução não pode ser demasiado rápida e, sobretudo, não na direção da restrição das liberdades, em nome de um tal de multiculturalismo bacoco.