19 abril 2016

De certa forma, já não chega?


Vimos recentemente mais uma iniciativa mediática sobre o tema dos refugiados, desta vez a visita do Papa à ilha grega de Lesbos, culminada na recolha de 3 famílias muçulmanas. Parece-me estarmos distraídos vendo apenas um certo tipo de árvore, esquecendo a floresta. Não seria mais importante, por exemplo, chamar a atenção do mundo para o Iémen onde de há um ano para cá ocorre uma guerra brutal que está a deixar o país completamente destruído e destruturado? Ou sobre os dois “Sudões”? Ou sobre a Nigéria onde 2 anos depois ainda não reapareceram as 200 estudantes raptadas, pelo contrário, outros raptos e massacres se somaram ainda.

Dentro do simbolismo, não seria mais representativo ter trazido também (sublinho: também) cristãos e yazidis que, mais do que da guerra, fogem do extermínio e da escravatura? Mais importante do que apelar ao espírito humanitário de acolher quem sofre, não teria maior impacto e seria bastante mais eficaz pôr a nu as reais causas da desgraça e denunciar abertamente os senhores da guerra, sejam eles quem forem?

Os refugiados que estão algures entre o Médio Oriente e a Europa, são uma pequena parte de todos os que sofrem e estão ameaçados no mundo. A solução, se o objetivo é encontrar soluções para lá do expor a miséria, não é traze-los para a Europa. Não sendo fácil parar as dinâmicas bélicas e destruidoras é muito mais importante acusar e pressionar os seus mentores do que apelar à caridade, invocando inclusive uma certa culpabilização do cidadão comum.

Pessoalmente, não aceito essa pressão, que considero até uma forma de distração. Há gente com mais responsabilidades neste mundo a serem pressionadas em primeiro lugar. A verdadeira solução não se passa pelo paliativo, sempre parcial, da caridade.


Foto do Le Figaro

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