05 abril 2016

Dinheiro ao largo

Os detentores de contas “ao largo” (offshore) não são todos iguais na dimensão da sua riqueza, na forma como ela foi obtida e no objetivo desse afastamento dos seus tesouros das costas patrulhadas. Haverá alguns casos que não configuram ilícito nem imoralidade, mas acredito que a esmagadora maioria cai num de dois casos. Esconder dinheiro cuja origem e posse não querem evidenciar (eventualmente suja…), ou não serem tributados nos seus países, mesmo sendo o dinheiro limpo. Sendo a Mossack Fonseca apenas um dos escritórios especializados nestes trabalhos, as entidades e as personalidades que pisam o risco surgem de todos os quadrantes profissionais, sociais, políticos e geográficos.

Não deixa de ser curioso ver países, pela frente, a taxarem as fortunas (o povo aplaude) e por trás a permitirem que estas se coloquem ao largo. Incompetência ou conivência? Obviamente que se pode questionar se faz sentido a imposição fiscal oficial existente, mas o que faz menos sentido é o oficial ser apenas teórico. Ainda no campo da diferença entre a teoria e a prática, convém recordar aos que se lamentam de que só os ricos beneficiam desta facilidade, do dinheiro ao largo, tudo o que circula sem conta. Sim, a economia paralela do serviço sem fatura é apenas outra face da mesma moeda – o offshore dos pequeninos. No fim todos fogem aos injustos impostos e a justiça social é apenas uma ficção para ser contada às criancinhas antes de adormecerem.

Todos diferentes, todos iguais? Não necessariamente. Entre o canalizador e o ministro as obrigações legais são idênticas, mas as exigências éticas são superiores para o segundo. O exemplo deve(ria) vir de cima.

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