27 setembro 2012

O dia da mudança

Há um princípio básico num processo de mudança de que quando se anuncia formalmente algo não se pode recuar no dia seguinte. É necessário previamente auscultar sensibilidades, confirmar viabilidade e quando se oficializa é para ficar. A partir da altura em que há um recuo, fica como precedente e a reacção à mudança torna-se mais forte, procurará rentabilizar o precedente e descredibilizar o processo no seu todo.

Vem isto a propósito do inevitável recuo do governo quando à transferência da TSU das entidades patronais para os trabalhadores que, nunca é demais realçar, não era fundamentalmente uma medida de redução de défice. Era uma experiência que alguns teóricos externos ou internos acharam curioso implementar e que com uma assustadora ligeireza foi decidida e anunciada.

O recuo era necessário mas deixa uma mancha, o tal precedente, e a imagem de que não se estava/não se estará a fazer as coisas bem. Se até agora, por muito penoso que fosse, ainda havia alguma sensação de que era um remédio amargo mas necessário, agora é diferente. Ninguém olha para estes anúncios de mais do mesmo, mais IRS, mais isto, menos aquilo, sem se interrogar: mas estes tipos sabem mesmo o que é que andam a fazer?!?

Este pessoal que nos governa, que nunca trabalhou duramente, alguns que nem sequer estudaram seriamente, tem competência para gerir o país e para definir e implementar uma Política de desenvolvimento? Se têm, não parece...E o pior não é a crise de hoje, o pior é que não se vê nada de nada que permita pensar que daqui a uns anos estará melhor, pelo contrário. Por exemplo: investimento estrangeiro, quem pensará instalar-se cá, com esta volatilidade fiscal?

20 setembro 2012

Velhos tempos

Qual a percentagem de utilizadores de Excel ou Word que utilizam realmente estas ferramentas de forma minimamente correcta? Não me refiro aquelas coisas fantásticas de ir buscar referencias aqui, ligar para acolá e por aí fora. Também não me refiro a coisas óbvias de utilização como, por exemplo, ter numa folha de cálculo cada parâmetro numa célula isolada e única, não escondido dentro de várias fórmulas espalhadas pela folha.

Refiro-me simplesmente a utilizar e a tirar partido das ferramentas estruturantes do documento. Estão garantidas coisas simples como fazer um índice automaticamente, reformatar um parágrafo e ser aplicado a uma família completa, inserir um parágrafo e renumerar automaticamente todo o documento?

Recordo-mo de há muitos anos um Word velhinho trazer um “tutorial” que corri em poucas horas e que me fez quase um craque, ficando em estado de choque quando alguém me pegava num documento e mo devolvia com a estrutura corrompida. Depois, deixei de ter necessidade de produzir documentos complexos e para mim passou a ser um mistério qual a regra que definia a formatação de um parágrafo resultante da fusão de dois diferentes. Fui resolvendo esses problemas com a escola do técnico da televisão antiga: duas pancadas de lado e uma por cima, as vezes necessárias até a imagem ficar certa.

Hoje tive um trauma. Queria apenas colocar num rodapé “página n / t” – sendo “n” o nr actual, e “t” o nr total. Este Word tem potencialidades fantásticas: tinha formatos de rodapés a não acabar mais em formato e em cor, mas em nenhum aparecia o meu “t”. Serei eu o raro? Não é frequente indicar o número total de páginas do documento? Na falta do tal “tutorial” fantástico chamei o “help” e… gritei por socorro! Aquela coisa em vez de me abrir um ambiente uniforme estruturado, que a Microsoft deveria ter tido a decência de preparar, saltava para a net e dou por mim num daqueles fóruns em que se colocam perguntas idiotas seguidas de várias respostas/palpites e patetices que cada qual livremente cuspia lá para dentro.

Pragmaticamente confesso que encontrei a resposta mas se isto é “profissional”, por favor!! Ou serei eu o raro…?!

17 setembro 2012

Pode-se falar?

A “Inocência dos Muçulmanos” é um filme provocador, talvez ao nível das “Je vous salue Marie” de Godard, que, apesar da enorme polémica, não deu mortos.

Será uma iniciativa infeliz e em cuja realização e divulgação há zonas de sombra que talvez um dia se clarifiquem, quando a poeira assentar. Pode ser difícil controlar a exaltação de muitos muçulmanos quanto ao assunto, mas quando partidos com responsabilidade governativa apelam a manifestações “contra os americanos” , estão a deduzir e a induzir que o facto de um ou vários americanos terem realizado o filme, torna responsável todo o país.

Por outro lado, esses e outros, pedem para não se generalizar e não se classificar todos os muçulmanos como terroristas apenas porque há alguns terroristas muçulmanos. Não haverá aqui alguma incoerência?

É que não estou mesmo a imaginar B. Obama a discursar ao país e a condenar todo o Afeganistão por causa dos talibãs que lá há, que até são muitos e que fazem muito pior do que simples filmes.

15 setembro 2012

Teremos sempre Setembro


"Setembro é o meu mês. Gosto de Setembro e do início do Outono, muito mais do que da Primavera das flores em botão, passarinhos e de todas as outras delicadezas que despertam e secam, sacudindo bolores, à saída do Inverno.

Não temos os campos pintalgados de papoilas e infestados de pólens, mas temos o pastel das cores ocres e o cheiro forte das vinhas e das figueiras. É muito mais intenso e muito mais premente.

Se a Primavera é a esperança ingénua, o Outono é o momento dos balanços e da maturidade. Em Abril aguardamos o fruto da floração. Em Setembro os frutos estão maduros e serão colhidos ou perdidos e, oxalá, haverão de retornar. Em frente da Primavera está a simplicidade de um desenvolvimento linear; à frente do Outono está a realidade complexa do como renovar.

A Primavera solicita-me e cansa-me nos seus dias crescentes; o Outono aconselha-me. Anuncia o encerrar de um ciclo que nos confronta com a nossa finitude e com a necessidade de renascer e recomeçar.

Não há fins de tarde mais belos do que os do fim do Verão. Não há mês mais belo do que o mês de Setembro."

Eu sei que é repetido, sim, mas apateceu-me. E com informação adicional sobre o local da fotografia: Rio Coa junto ao local onde a Ribeira de Piscos o encontra.

11 setembro 2012

Experiência em curso

Eu, e creio que muitos mais, estamos de acordo com o princípio de fazer os sacrifícios necessários, desde que justos, claros e bem explicados. E, neste campo, a última declaração do nosso primeiro-ministro não ajuda nada. Em primeiro lugar, a famosa questão da igualdade exigida pelo TC não está satisfeita – é necessário que seja “permitido” a instituições públicas terem salários em atraso, fazerem despedimentos colectivos e até mesmo falirem!

Depois, o malabarismo do sobe e desce das contribuições para a Segurança Social entre trabalhadores e empregadores fundamentalmente não é uma medida de redução de défice público. Uns pagam mais 7%, outros menos 5,75%, e o saldo é apenas de 1,25%. Porque é que não se fez um simples aumento de 1,25% em vez desta redistribuição brutal? Para que serve este alívio da contribuição para as empresas: para dar viabilidade a empresas em desespero, para aumentar competitividade e exportações, para remunerar melhor os accionistas, para comprar um Mercedes novo ou para atrair investimento estrangeiro? O assunto é demasiado sério e o impacto dos 7% nos trabalhadores, quando tantos já estão individual ou familiarmente com pouca folga, é demasiado importante para se justificar com uma vaga declaração de boas intenções.

Atendendo ao contexto e ao histórico deste tema, eu encontro uma justificação: é o FMI que quer ver os efeitos na economia de um país que a redução da contribuição patronal representa e nós podemos ser um bom caso de teste. E como dependemos deles para mais tempo e/ou mais dinheiro, aceitamos ser cobaias. Eu sei que é uma especulação, mas é plausível e enquanto não me explicarem a real razão, considero-a a mais provável. E é um jogo muito perigoso, não para o FMI, é claro.

09 setembro 2012

Imposto não é saque

Leio que actualmente o Estado saca cerca de 37% da riqueza produzida em Portugal em impostos. Dentro da discussão do remédio para o famoso défice, que, recordando, é gastar mais do que o que se recebe, de novo vem a questão de onde sacar mais. E, obviamente, é simpático e popular dizer que “os ricos que paguem a crise” e até vi gente com bastante responsabilidade defender a ideia de taxar ainda mais excepcionalmente os altos rendimentos, supostamente imorais e privilegiados.

Acredito que se possam considerar excessivos alguns vencimentos mas quando se trata de uma esfera estritamente privada, de organizações que equilibram as suas contas sem direitos especiais de saque a terceiros, a que propósito o Estado tem que intervir/corrigir o assunto? Justiça fiscal? Mas, se os rendimentos mais altos já têm uma taxa mais elevada, o valor absoluto cobrado já é muitíssimo superior à média. Onde se atinge essa justiça fiscal? Quando o valor cobrado por impostos seja de tal progressivo que o rendimento líquido passe a ser comunitariamente igual para todos?! Acho que nem Mao Tse Tung se lembraria desta.

Não me choca que em situação excepcional haja impostos excepcionais, particularmente sobre o consumo de luxo, embora, como se sabe, a partir de um nível inibem o consumo e reduzem a receita absoluta. Mas, de uma vez por todas, o Estado que equilibre naturalmente as suas contas, gastando menos, como qualquer cidadão/organização responsável e acabe com o desplante desta postura de “Robin dos Bosques” em proveito próprio. Até que, por este andar, estamos a ver a definição de “rico” a alargar perigosamente, sempre, naturalmente, dentro do grupo dos que não conseguem brincar com sua declaração de rendimentos.

04 setembro 2012

De Matamouros a enérgico jardineiro

O culto de Santiago está muito associado à Reconquista Cristã e tem uma função motivadora bélica bem evidente na designação de Matamouros e na cruz transfigurada em espada. Na Catedral de Santiago de Compostela há uma estátua do dito a cavalo, com a dita cruz/espada em riste, fazendo jus ao cognome e dizimando alguns infiéis que caem a seus pés sem piedade.

Ora bem, hoje a estátua já não se lê assim. Agora apenas se vê o santo a cavalo e a sua espada investe violentamente mas contra umas pobres flores que escondem os sarracenos aos pés do cavalo. Questão de não ferir susceptibilidades? Por favor, haja respeito pela história e maioridade para lidar com ela, seja polémica ou não, “errada ou certa”.

Recordo-me de uma vez, ao circular na rotunda da Boavista com dois franceses, estes me questionarem sobre o significado do leão a dominar a águia lá no alto da coluna. Tive algum embaraço pelo politicamente incorrecto de ter que lhes explicar que aquele monumento glorificava a derrota e a humilhação do seu país. Comecei com um contexto histórico e apelando a uma certa compreensão. Eles interromperam-me prontamente para dizer com descontracção: “Não se preocupe! Nós somos bretões!!” .

Como nem todos os franceses são bretões, na dúvida é melhor retirar todas as referencias às derrotas napoleónicas, não vá o Sr Hollande zangar-se, idem para a nossa participação na Grande Guerra, pouco gloriosa é certo, mas não vá a Sra Merkel embirrar... e por ai fora!