30 março 2008

Humilhados e ofendidos

Garanto uma coisa! Se eu descobrir que algures na hipotética república do Cacaquistão, um jornal, por mais insignificante que seja, publicou uma anedota pondo em causa a virilidade do nosso D. Afonso Henriques, ou pretendem levar à cena uma peça de teatro glorificando a dinastia dos Filipes em Portugal, ou alguém, não importa quem, colocar no youtube um pretenso documentário argumentando que Camões era um simples arruaceiro e Pessoa não passava de um bêbado, isso será inaceitável.
Quem não se sente, não é filho de boa gente. Pode não haver embaixada do Cacaquistão em Lisboa (até nem pode haver Cacaquistão de todo), mas eu irei mobilizar a diáspora tuga para encontrar, onde quer que esteja, qualquer coisa cacaquistona e partir aquilo tudo e incendiar os automóveis que estejam por perto. É que com a dignidade da identidade nacional não se brinca ! E é assim que eles aprenderão a respeitar a nossa cultura e, para a próxima, haverão de se encolher, borrarem mesmo todos e pensarem cinco vezes antes de nos insultarem de novo!

E é assim que deve ser!!!

Será?... (Para bom entendedor, uma interrogação final basta...)

28 março 2008

Taguar??

Jaguar, provavelmente das marcas mais fortes no mundo e uma referência inquestionável no automóvel. “Very British”. Podia o desempenho e mesmo a qualidade intrínseca não serem nada de especial, comparando com outras opções menos nobres, mas Jaguar era Jaguar. Agora, a Jaguar pertence a um construtor automóvel indiano. É o império de pernas para o ar!

Já de há uns anos para cá que a indústria automóvel inglesa cai aos pedaços. É certo que ainda se constroem lá muitos veículos, mas marcas inglesas, mesmo inglesas, já não há. A história do grupo Rover é um exemplo. A BMW compra-o em 1994 mas seis anos depois, sem conseguir inverter o descalabro financeiro, sacode-o guardando apenas o Mini. Nesse pacote a Land Rover foi parar à Ford. A marca Rover, depois de umas curvas complicadas, é hoje propriedade da SAIC chinesa!

Na grande tormenta porque passa a indústria automóvel americana actualmente vão-se os anéis para salvar os dedos. A Ford entendeu que a sua divisão "luxo" que inclui a Land Rover e a Jaguar, adquirida em 1989, eram anéis dispensáveis. Quem os comprou? Os indianos da Tata. Portugal ainda não teve muito contacto com a marca Tata, uns automóveis muito baratos, adaptados ao mercado indiano, mas, para já, a anos luz dos padrões europeus.

Como ficará a clientela tradicional da Jaguar, já muito crítica da heresia de a Ford ter “re-estilado” um Mondeo para lhe chamar Jaguar, ao pensar na nova família?

Como ficará o orgulho britânico? Que a Rolls Royce seja controlada pela BMW ainda vá que não vá, agora Rover chinesa e Jaguar indiana?!?


Nota: Fotos extraídos dos sitíos das marcas

25 março 2008

O que faz falta

Sobre a agressão à professora no Carolina Michaelis, duas ou três coisas:

1. A professora demonstra falta de formação e/ou jeito para lidar com a situação, ao reagir à força física com força física, de que aliás não dispunha.

2. Mais preocupante do que o desvario individual é a reacção colectiva da turma, que promove e goza o espectáculo, quase encorajando a colega. Nota-se que esta, após um primeiro arrebatamento em que pára sorrindo e surpreendida com a sua reacção, é quase animada pelo colectivo a continuar num crescendo sem oposição.

3. Diz a oposição de que a culpa é do governo....

4. E diz o Procurador Geral da República que é assim que os gangues começam.... enfim. É muito reprovável como falta de respeito mas não é delinquência. Sugiro que o sr Procurador se preocupe mesmo com os bandidos a sério e deixe passar esta oportunidade de foco mediático.

Mas, o que faz falta, o que faz mesmo, mesmo, falta é não haver quem dê um bom tabefe na dita desvairada para a trazer ao seu lugar. Poderia não ser com os 5 dedos da mão e não necessariamente física, mas que doesse e bem. Isso sim, é o que faz falta.

22 março 2008

Parabéns Cabo Verde!



Dizia já o fado que “não é desgraça ser pobre...”. De facto, em África a desgraça está muito mais na governação do que nos recursos.

No último número da “Jeune Afrique” que comprei, nr 2462 de 16 a 22 Março de 2008, dizia em que o “bom aluno passou de classe”. Num artigo de duas páginas contava que desde 1 de Janeiro de 2008, Cabo Verde deixou de integrar o grupo dos países PMA (pays moins avancé) para entrar no grupo dos países PRI (pays à revenu moyen). Creio que isto em Português se traduz por deixar de ser subdesenvolvido e passar para o grupo de “em vias de desenvolvimento”. Ao certo não sei porque após umas boas pesquisas e googleadas não encontrei nenhuma referência ao assunto em língua de Camões.

O grande desafio agora é consolidar o novo estatuto, uma vez que esta evolução se traduz por uma redução do nível das ajudas internacionais, teoricamente menos necessárias. O artigo desenvolve um conjunto de informações e de indicadores sobre um dos países mais pobres em recursos naturais da África e do seu sucesso a vários níveis, exemplar no contexto africano.

É pena que o assunto não tenha tido o merecido destaque na imprensa nacional para ter sido possível enviar um grande abraço colectivo a estes nossos irmãos da “morabeza”.
Nota: Foto Googleada

20 março 2008

O Desgosto dos Belgas

A notícia tocou-me a vários níveis. Hugo Claus, doente de Alzheimer, morreu de eutanásia, a seu pedido, consciente. E a palavra que salta para o primeiro plano é coragem.

Hugo Claus escreveu sobre o seu país com muita coragem. Sendo Belga e Flamengo, escarafunchou fundo na tacanhez das mentalidades desse pequeno país, tão cheio de pequena gente. O seu livro “O Desgosto dos Belgas” é um testemunho e um retrato terrível daquela Flandres que, como Brel tinha acusado meia dúzia de anos antes, era “nazi durante as guerras e católica no intervalo delas”. E escreve de uma forma tão lúcida e incisiva, só possível a quem está muito próximo e o vive e o ama e o sofre.

Depois, o fim. Face ao Alzheimer, aquela coisa que faz partir o espírito à frente do corpo, Hugo Claus disse não, que queria partir todo de uma vez, no momento que ele escolheu. Não sei se ele se cruzou com Brel, mas não posso deixar de evocar mais uma vez esse outro flamengo tresmalhado: “Morrer, isso não é nada, agora envelhecer, ó envelhecer...”

19 março 2008

A factura de Eliot Spitzer



Parece que foi este o preço pago pela perda do posto de Governador de Nova Iorque.
Enfim... podia ser pior!

17 março 2008

Pequeno Grande



A notícia passou quase desapercebida. A Porsche controla a VW. Ou seja, um fabricante de carros muito especiais, para um nicho de mercado muito pequeno, ganhou dinheiro suficiente para comprar o maior fabricante europeu de automóveis de massa.

Gostava de conhecer a opinião dos fanáticos do crescimento e do volume como dogma inquestionável para qualquer estratégia empresarial sobre esta “irracionalidade”. Só foi possível, é claro, porque a Porsche é no fundo uma empresa familiar, orientada a criar valor de forma sustentada e não gerida por gurus financeiros da escola anglo-saxónica. Quem foi gerida por essa tropa foi a General Motors que acaba de perder a liderança mundial do sector, andando à toa a tentar entender o que deve fazer para travar aqueles que começaram por lhes morder os calcanhares e que agora já os estão a pisar. Sim, porque se em quota de mercado estão a recuar, então em resultados é o desastre total.

Para ilustrar este texto, deveria ter escolhido uma foto do Cayenne que está por trás de muita da riqueza recente da Porsche. Mas não. Há algo de emocional nesta história a que não resisti e impuseram-se dois outros, mais antigos. O Porsche 917, um quarentão que continua a ser uma referência estética imtemporal e o 935 Moby Dick, lembram-se do monstrinho?

15 março 2008

Venha o Rei ?



Um destes dias apanhei o “Prós e Contras” a discutir Monarquia versus República. O país deve estar num estado muito melhor do que parece, para tal tema merecer tal destaque...

Não vi o programa todo, até porque rapidamente a argumentação se esgota, mas fiquei surpreendido como é possível, afinal, haver tanta gente com cabeça em cima dos ombros a defender uma coroa em cima de uma cabeça!

Só o facto de, quase de entrada, Paulo Teixeira Pinto ter apontado o exemplo de Cuba como um “contra” das repúblicas já indicou muito sobre a profundidade das bases da sua argumentação.

Fala-se muito do caso de Espanha. A Monarquia ressurgiu em Espanha num momento muito particular e delicado e teve efectivamente um contributo importante para a estabilização do país. Não é o caso de Portugal, nem é minimamente provável que um dia venhamos a estar em situação idêntica. Veremos também como ficará a popularidade da casa real espanhola quando Juan Carlos ceder o lugar a Filipe (e Letícia...).

Espremendo e espremendo não consigo encontrar uma boa razão para pensar que Portugal ficaria a ganhar algo em ter um chefe de estado da linha da casa de Bragança em vez de um democraticamente eleito. Só encontro três cenários para a defesa dessa causa. O primeiro, é o efeito de tutela. O povo é menor e sente-se mais seguro se tiver um “paizinho” estável, de “pedigree” garantido, e não ter a chatice de cada quatro anos eleger alguém, que até pode ser um qualquer deles. O segundo é, como já ouvi dizer não sei onde, que esteticamente a Monarquia é muito superior à República. Ou seja, as cerimónias que metem reis, rainhas, príncipes e princesas são muito mais imponentes e vistosas. Sim senhor, é válido para quem considerar que a chefia de Estado se situa num plano teatral ou, mais ajustado ainda, de folhetim.
Por último, e aí deverão estar enquadrados a maior parte dos senhores que foram à televisão, é uma questão de casta. É ver e defender um modelo de sociedade em que as elites não se definem pelo mérito mas sim pelo berço. È nesta linha que entra o argumento de que o rei é “apolítico”, isento das malévolas influências dos aparelhos partidários, estando por isso num nível superior ao dos plebeus que se sujeitam a eleições.

Sobre o desempenho histórico da monarquia em Portugal, há uma pergunta directa e fatal: Que rei tivemos depois de D. João II digno desse nome? Que indiquem um só! Durante toda a quarta dinastia, destaco um, D. José que, de tão nulo, permitiu que na prática tivesse governado, bem ou mal mas governado a sério, o Marquês do Pombal.

Cereja em cima do bolo, acham que a figura da fotografia representaria melhor Portugal do que os presidentes eleitos que tivemos???

13 março 2008

Berbere, Cabil



Berbere. Designação genérica para um conjunto de povos do Norte de África que já lá estavam quando os romanos passaram e que não absorveram a cultura greco-romana. Os mais famosos são os tuaregues, nómadas do deserto, de cor escura. Mas não só. Em muitas zonas montanhosas do Magreb existem outros berberes e alguns até geneticamente muito próximos de nós.

Os que mais dão que falar são os Cabiles, de uma zona montanhosa a leste de Argel, na direcção da Tunísia. Com a chegada dos árabes arabizaram-se, mas muito à superfície. À colonização cultural francesa também resistiram. Nunca gozaram de autonomia sustentada. Parafraseando uma expressão dum outro contexto: nunca se governaram nem nunca se deixaram governar. Uma cultura forte com língua própria, Tamazight, e um lema em que se identificam como o “homem livre”.

O seu "José Afonso", Lounes Matoub, é assassinado em 1998, sem se saber bem se por islamistas ou se pelo "poder", incomodado pela sua postura contestatária. Para os seus admiradores a dúvida persiste. Um forte movimento popular de 2001 fez desaparecer da zona todos os sinais de autoridade: polícia, exército, etc. Só anos depois lenta e discretamente regressaram. Este contexto e a natureza montanhosa tornaram a região num covil por excelência dos terroristas islâmicos, que em geral não são gente daquelas paragens. Actualmente é a zona com maior actividade. Ontem mesmo vi a notícia de ter sido abatido um “terrorista de 17 anos” em confrontos com o exército.

E tudo isto apesar de os habitantes locais assumirem um distanciamento relativamente à religião superior à média do país. Frase habitual: “muitos “árabes” bebem às escondidas; os cabiles assumem-no”.
E as mulheres vestem roupas tradicionais como estas que as fotografias documentam!

10 março 2008

A democracia em questão

Os noticiários dos últimos dias provocaram-me um efeito estranho, como se estivesse em curso um processo de regressão democrática. Quando a multidão sai para a rua desta forma pedindo cabeças de rei ou de ministros é porque há algo que não funciona.

Resumindo e tentando sintetizar. É indiscutível que o país necessita de reformas profundas em muitas áreas, sendo a educação seguramente uma delas. Aliás, o distribuir 100 000 pessoas por 600 autocarros é já um problema ou físico ou aritmético, basta fazer as contas! Ironias à parte, é claro que muitas mudanças são “impopulares”, ou seja provocam a reacção do “estou de acordo, mas desde que não toquem no meu queijo!”.

Quando as mudanças tocam a maioria da população e o regime é democrático, não é fácil. É exigido uma grande nível de maturidade à sociedade e obriga a um trabalho sério e aberto entre governo, oposição e representantes sociais. E, aqui, o problema agrava-se. É que se a oposição está como se sabe, até já fizeram regressar à ribalta Santana Lopes (amnésia?), então dos outros nem se fala: já alguém imaginou, por exemplo, o Sr Picanço a discutir construtivamente alguma coisa que mexa minimamente nos sacrossantos direitos adquiridos?

Como consequência o governo fica completamente isolado e, determinado, avança no seu ímpeto reformador sem interlocutores à altura. E o resultado está à vista. Por ausência de quem se “oponha construtivamente e institucionalmente” o povo saiu à rua. E assusta-me muito ver assim povo na rua com estes propósitos.

O que fazem os interlocutores que não estiveram presentes onde deviam? Agradecem a benesse e aproveitam a boleia com mais ou menos desfaçatez. Os sindicatos falam com uma força como há muito não se ouvia. A oposição esfrega as mãos de contente e aproveita a brecha aberta na robustez do governo, já com o cheiro a pólvora do próximo combate eleitoral nas narinas e para qual estavam completamente desarmados.

Tudo isto é um jogo muito perigoso. As reformas são necessárias, a questão a discutir é como. E, este “como”, passa por diálogo e por propor alternativas. Juntar a voz ao coro da multidão numa postura de recusa destrutiva poderá ter retorno a curto prazo, mas para a maturidade democrática do país é fatal. È que nem sequer temos petróleo para permitir a popular política de “papas e bolos”.

05 março 2008

Desculpem lá...

Desculpem lá Srs Professores (e desculpem os outros pelo texto de assunto repetido). Até podem ter alguma razão. Pode o sistema de avaliação proposto ter algumas incongruências e a ministra ter uma teimosia pouco esclarecida.

Agora, vir assim para a rua exigir a cabeça da ministra parece-me demasiado ligeiro para quem tem responsabilidades como as vossas. Parece-me demasiado um “vamos a ela maralhal!”. Recorda-me o espírito das famosas RGA’s de quando a maior parte destes professores era estudante. Recorda-me o despoletar das revoluções nos regimes não democráticos.

E tudo isto é apenas porque “não querem ser avaliados daquela forma”? Presumo que, pelo menos oficialmente, não seja uma recusa a serem avaliados de todo! Têm ideia que quanta gente neste mundo é avaliada de forma deficiente? E que calma e decorosamente tenta fazer corrigir o sistema, sem lhe passar pela cabeça vir para a rua pedir a demissão sumária dos seus conselhos de administração. Têm ideia do quanto essa postura redutora pode ser difícil de digerir para o comum do “não funcionário público”? E eu que pensava que os médicos é que eram os campeões do corporativismo.

Uma coisa é protestar dignamente e outra coisa diferente é este discurso agressivo e quase licencioso. Por último e não menos importante: Como querem que os alunos respeitem a instituição “escola” se os professores não mostram respeito pela instituição “governo” ?

01 março 2008

Avaliação ao correr da pena

É fácil concordar genericamente com a necessidade da avaliação de desempenho para qualquer função.

É extraordinariamente difícil, implementá-la sem criar desconforto, sobretudo onde não houver tradição e onde as hierarquias não estiverem consolidadas nem reconhecidas.

É extremamente fácil, fechado num gabinete a chupar na esferográfica e a olhar pela janela, com um compêndio da especialidade aberto em cima da mesa, arquitectar um sistema de avaliação incongruente, baseado em indicadores e referências confusos ou desajustados.

É extremamente difícil pôr em prática um sistema que não encontra suficiente aderência à realidade.

Os professores, alguns, gostariam de ser avaliados e de serem premiados pelo mérito, mas agora ao sentirem o momento chegar, alguns, outros ou os mesmos, assustam-se com a perspectiva das consequências. Era mais cómodo quando eram todos iguais. Têm a desculpa da falta de clareza do sistema proposto para argumento da sua reivindicação que, no entanto, tem raiz mais funda.

Para tal revolução, de tamanha profundidade e complexidade, era necessário ter sido testada antes em simulação ou em pequena escala. Agora depois de sair preto no branco, o ministério não recua, baseando-se na bondade do objectivo e no facto de saber que reacções a uma mudança como esta haverá sempre e limita-se a dizer “cumpra-se!”. E é complicado obrigar a cumprir algo que é de pouco clara leitura.

Grande imbróglio!!!