22 agosto 2005

Fogos florestais no Outono

Não suporto ver o espectáculo das chamas nos telejornais nem nas primeiras páginas dos jornais. Não suporto a exibição mediática em que se foca o detalhe e o acessório e se ignora o fundamental e a dimensão real. Não suporto as “estatísticas sensacionais” em que “tudo arde” e se contabilizam e misturam distritos e concelhos à toa. Não suporto os analistas amadores ou profissionais que vão debitando comentários e palpites sempre iguais e próprios da “estação” (um pouco da mesma forma como certa imprensa notícia os acontecimentos sociais no Algarve). Não suporto os cortejos de circunstância das individualidades diversas, uma vez mais a aparecer nos telejornais, episódio obrigatório desta novela.

Conhecendo uma boa parte das serras e áreas em jogo, revolta-me quase tanto a tristeza do queimado como o festival que com isto se monta. Desde há 30 anos que se passa mais ou menos o mesmo. As calamidades são imprevisíveis e inevitáveis. Estes acontecimentos não o são. As responsabilizações e o apuramento das causas nunca passam dos lugares comuns de sempre. Por isso não me falem em incêndios: não tenho pachorra!!! Só peço uma única coisa: que se fale e que se discuta os incêndios florestais no Outono
.

Este texto é de 2003... E não resisto a acrescentar:

1. Um proprietário de um imóvel urbano abandonado, que desmorona e provoca um acidente na via pública, é responsabilizado. E os proprietários florestais, não deveriam ser também responsabilizados? Ou a culpa é toda do governo que contratou poucos helicópteros, que, aliás, nós todos pagamos?

2. Ó tempo volta para trás...! Para todos os que acham que “antes do 25 de Abril” isto não acontecia, duas sugestões. Em primeiro lugar, comparem as condições climatéricas e tomem nota de que elas não voltam para trás. Em segundo lugar comparem as condições e o modo de vida das populações do interior actuais e as da época. Tenho a certeza que essas populações não gostariam que o tempo voltasse para trás, só para que uns citadinos nostálgicos deixassem de ver incêndios na televisão.

3. O regresso do primeiro-ministro. Não creio que viesse fazer nada de concreto que não pudesse ser feito por quem cá estava. Creio que não viria para pilotar mais um helicóptero. Quando muito, serviria para alimentar o circo mediático. Reservemos as energias para os “Fernando Gomes”, “Armando Vara”, “Fundações”, “Mário Soares” e outras coisas que, essas sim, merecem bem a nossa atenção.

3 comentários:

Titá disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

É insurpotável tanta e tão longa incompetência de quem nos (des)governa!

BASTA ...!!!!!

AMP

Carlos Sampaio disse...

Caro AMP

Sabes que sou bastante critico quanto aqueles que se governam, fingindo que nos governam.
No entanto, neste caso particular dos incêndios florestais, debitar tudo na conta do governo é, na minha opinião, desresponsabilizar os proprietários.
E se quem tivesse mata mal cuidada que ardesse, pagasse os custos do combate ao incêndio? Ajudaria?