19 julho 2006

Partido do Amor Fraternal, Liberdade e Diversidade

Excerto duma notícia do DN de 18.07.2006

“Que a idade do consentimento para uma relação sexual baixe dos 16 para os 12 anos. Que a televisão possa exibir pornografia a qualquer hora. Que os jovens de 16 anos já possam exercer a prostituição. Que a nudez seja livre. Que a instituição do casamento seja abolida. As propostas do Partido do Amor Fraternal, Liberdade e Diversidade (PNVD, no original) são polémicas até mesmo na liberal Holanda. Mas, perante a oposição colocada por um grupo de cidadãos mais conservadores, o juiz HFN Hofhuis decidiu ontem que o PNVD tem tanto direito a existir como qualquer outro partido. […]

Fundado em Maio por três homens que assumem publicamente preferir ter relações com adolescentes, o PNVD defende a cidadania completa aos 12 anos, o que inclui não só ter relações sexuais como poder votar, jogar, viver sozinho ou usar drogas leves. […]

"Acreditamos que a Holanda está pronta para o nosso partido", afirma Marthijn Uittenbogaard. "E, se conseguirmos ir para a frente, queremos mostrar ao resto da Europa que é importante defender a liberdade. Neste momento não há nenhum partido verdadeiramente liberal. E faz muita falta."


Muito provavelmente a verdadeira dimensão deste partido(!?) será muito inferior à sua projecção mediática. O mesmo artigo refere que sondagens apontam para mil votos. Por isso, provavelmente, nem faria sentido ser noticiado, ou talvez sim.

Se isto é liberdade, então eu preciso de trocar de enciclopédia. Ou então, dando um passo à frente e numa atitude radicalmente liberal, eu reclamo a liberdade total para poder espetar um ferro em brasa nos militantes do PNVD, num sítio que aqui não digo, que é o que me apetece mesmo fazer. E é mesmo isso que faz falta!!

É grave que se ouça invocar a palavra liberdade neste contexto sem um pronto desmascarar e correcto enquadramento. E também é preocupante este escalada de revindicações, muitas não tão graves e absurdas como estas, em que a perspectiva egoísta e individual ignora completamente a responsabilidade e a solidariedade social. Estarei a ser conservador?

17 julho 2006

Um facto redundante

Quando duas pessoas decidem passar a viver juntas, partilhando bens, constituindo família e etc., existe evidentemente uma razão de natureza afectiva por trás dessa opção (ignoremos por agora as motivações económicas unilaterais… ).

No entanto, existem implicações sociais importantes com direitos e obrigações específicos. E, para isso, está previsto um contrato social que se chama “casamento”. Apesar de já não ter componente confessional obrigatória, nem obrigar a festança nem a vestido branco, decididamente o casamento não está na moda.

Por isso, a opção de muitos é viverem juntos sem casarem, porque o “papel” não acrescenta nada. Evidentemente que do ponto de vista afectivo não acrescentará nada mas, quanto mais não seja, quando acaba a relação por separação ou por óbito, há um monte de coisas a regular. E, como não foi feito o contrato normal, a sociedade vê-se na necessidade de criar legislação para as uniões de facto.

O que me parece é que esta legislação é potencialmente redundante porque o objectivo é exactamente o mesmo do casamento. Ou até pior, tenderá a ser assimétrica! Os “unidos de facto” exigirão todos os direitos dos “casados” e dispensarão, tanto quanto possível, as obrigações. Se, por exemplo, fiscalmente a união de facto for mais interessante, aí já não interessará pedir a “equivalência” aos casados, com base na mui constitucional igualdade de direitos.

Da mesma forma que após, salvo erro, 3 anos de separação, se pode reconhecer um divórcio de facto, eu acho que após “x” anos de união ou, por exemplo, o nascimento de filhos, se deveria “decretar” um casamento de facto! Seria muito mais simples e, a prazo, mais justo.

13 julho 2006

Sid Barret

Já antes tinha aquela auréola de “precocemente desaparecido”. Aquele que tanto prometia e pouco concretizou. Sendo, por isso, fácil fantasiar sobre o que “poderia ter sido se”… Agora, que faleceu, por maioria de razão não se poupam elogios.

Talvez tenha sido uma referência importante para os restantes membros do grupo. Se foi inspiração para “Wish You Were Here” e “Shine on You Crazy Diamond”, bem haja. São dois temas fabulosos e já inscritos na História da Música.

O que teriam sido os Pink Floyd se ele se tivesse mantido activo, não sei. O que sei é que a dimensão da obra dos Pink Floyd pós Sid Barret é demasiado grande para poder ser ainda e sempre vista à sombra do “mítico ausente”. Aliás eu gosto muito dessa obra e muito menos do pouco que ouvi dele.

Desculpem-me por isso, se, com o devido o respeito, não sinto a mínima motivação para lhe dar todo esse crédito, como parecer ser de bom tom.

Ainda sobre eu e os Pink Floyd:
Por anos e anos ....

12 julho 2006

Clero, Nobreza e Povo

A Nobreza medieval inculta, e até em parte analfabeta, apoiava-se no Clero letrado para consolidar o seu poder temporal. A Nobreza tinha a espada, o Clero os livros e o Povo era tudo o resto que deveria seguir a regra da espada de uns e a dos livros dos outros. Ao longo de vários séculos, este casamento funcionou em pleno, chegando mesmo a ter sido passado a lei escrita. A unidade da Igreja era considerada necessária para a unidade do Estado e este argumento justificou muita coisa.

Um exemplo eloquente pelo princípio e pela prática foi a Inquisição. Além da forte promiscuidade, em muitos processos, entre os argumentos espirituais e os interesses seculares, era curioso que a Inquisição não matava ninguém. Apenas julgava e, eventualmente, condenava. O “braço secular” é que se encarregava de usar a “espada”.

Evidentemente que esse tempo já passou. Apesar de todos os defeitos de quem nos governa, já não são nobres analfabetos que necessitam de quem lhes leia os livros. E, por isso, também já não legislam de acordo com as vontades da Igreja. Chama-se a isto separação entre Igreja e Estado.

O protesto público e veemente do Vaticano pela ausência do primeiro ministro espanhol da missa celebrada pelo Papa em Valência no passado fim de semana, parece um lamento de quem foi abandonado por um parceiro que não assumiu as suas obrigações. A atitude de Zapatero terá colocado mais alguma pressão nesta Espanha à beira da ebulição. No entanto, lembrou claramente que já não estamos nessa época do famoso e simplório triângulo Clero/Nobreza/Povo.

10 julho 2006

Portela



Na base, uma escultura de José Rodrigues,
nos jardins do Convento de S. Paio, em Vila Nova de Cerveira.


Portela: Cotovelo de estrada ou caminho, depressão entre cumes e montanhas, passagem estreita entre montes, desfiladeiro.

08 julho 2006

Os quatro elementos


Água, Ar

Terra, Ar

Água, Terra, Ar

e Fogo

Memória de Fragoso, Barcelos.
6 de Junho de 2006.
2800 ha de floresta ardidos no maior incêndio florestal do ano até hoje.

06 julho 2006

Aritmética cega ou mérito selectivo?

Forçar uma distribuição mais equitativa entre os dois sexos nas listas eleitorais por legislação não me parece ser o bom caminho. A base deveria ser sempre uma “cultura” de mérito independente do sexo, raça, credos e outras coisas mais. Só a escolha pelo mérito permite fazer o melhor com os mais adaptados para cada função. Se se prescinde de mulheres por serem mulheres e se estas poderiam ter um desempenho melhor do que os homens que as substituem, ficamos a perder. Também ficamos a perder se se colocam mulheres nas listas somente para a aritmética bater certo.

Existem resistências que são uma questão cultural. Será que uma imposição legal é a melhor forma de as vencer? As mentalidades mudam por decreto? Não me parece! Inclusivamente, deixa um certo perfume de condescendência do “só entrou por causa da quota”, com correspondente fragilização de quem se queria proteger.

Aliás, pelo mesmo argumento do famoso direito de “igualdade” garantido pela Constituição, esta via abre caminho para que amanhã se legisle impondo quotas para homossexuais, minorias religiosas, grupos étnicos, escalões etários, classes profissionais e sei lá onde pode acabar…! E, já agora, perdoem-me a ironia, com paridade de sexo dentro de cada grupo!!! Decididamente este não é o caminho para, num mundo competitivo, fazer o melhor com os melhores!

Já chegamos ao ponto em que nos USA, nalgumas empresas com altas preocupações com o “politicamente correcto”, uma boa forma de gerir a carreira é declarar-se, por exemplo, homossexual e apanhar a boleia da “discriminação positiva”. Na dúvida, dá-se preferência a esses para não se ser acusado de prejudicar as minorias. Sem mais comentários.

02 julho 2006

"Auto-retrato” por Albert Einstein




Daquilo que é significativo na nossa vida, mal nos damos conta, e isso não é por certo coisa que interesse aos demais. Que sabe um peixe acerca da água em que nada durante toda a sua existência?

O que é doce ou amargo chega-nos do exterior; já o que é difícil vem de dentro, como resultado no nosso próprio esforço. Durante a maior parte do tempo, faço aquilo que a minha natureza me impele a fazer, e torna-se embaraçoso ser objecto de tanto respeito e afecto por algo assim. É verdade que também cheguei a ser alvo de ódios; mas esses nunca me atingiram, pois de certo modo provinham de outro mundo, com o qual não tenho quaisquer relações.

Vivo numa solidão que é dolorosa quando se é jovem, mas agradável nos anos de maturidade.

Escrito em 1935 com 56 anos de idade.

30 junho 2006

Retaliação e proporcionalidade

Em primeiro lugar, não tenho nem simpatia especial nem ódio de estimação, nem por israelitas, nem por palestinianos. Apesar de tudo, sentir-me-ia bastante mais seguro com uma arma nuclear na mão dos primeiros do que dos segundos. Têm obrigação de ser mais responsáveis.

Também não entendo nada de jogos de guerra nem do que é aceitável ou excessivo. No entanto, porque houve um cabo israelita tomado como refém, em retaliação foram presos 8 ministros, 20 deputados, uns tantos autarcas e mais uns “trocos”, num total de 64 políticos palestinianos.

Mesmo tomando todos os descontos por quem teve a iniciativa e o registo de actividades de ambas as partes, das duas uma: Ou os israelitas não têm preocupações de proporcionalidade nas retaliações e é “bater ao máximo”, ou acham que 1 cabo para 64 políticos (incl ministros) é uma conta justa.

Em ambos os casos, ajuda a explicar porque não houve solução até hoje e porque não se vislumbra que venha a haver tão cedo.

29 junho 2006

Ainda a avaliação e a cultura subjacente

Um estudo realizado recentemente mostrou existir uma correlação relativamente directa entre o nível de corrupção de um país e a respectiva difusão da prática do “copianço”.

Perfeitamente lógico, digo eu. Num país são, em que se alcança algo pelo que se vale mesmo, é importante saber e, para isso, é fundamental aprender mesmo. O “copianço” pode trazer um sucesso de curto prazo mas condena o longo prazo. Num país podre, não é tão importante aprender a sério porque isso não será fundamental para o futuro. Aqui, o “copianço” resulta em pleno. Não é importante saber mesmo, basta o diploma formal.

Ainda se pode acrescentar o factor pressão social, positiva e negativa, que auto-alimenta e reforça a corrente dominante. Se “toda” a gente copia, porque me hei-de “prejudicar” ? / Se “ninguém” copia, mais vergonhoso será ser apanhado a aldrabar!

28 junho 2006

Avaliar a avaliação

O desenvolvimento dos recursos humanos é um vector fundamental na gestão de qualquer actividade e a avaliação do seu desempenho uma ferramenta indispensável para esse fim. Curiosamente, ou talvez não, a forma como é realizada constitui um indicador infalível da sanidade e maturidade de cada organização. Numa estrutura saudável, a avaliação procura ser objectiva, justa, rigorosa e é encarada como uma necessidade para a melhoria. O avaliador tem, em primeiro lugar, responsabilidades para como quem é avaliado. Numa estrutura enferma, a avaliação é um frete incómodo ou uma ferramenta de pseudo-justificação de favoritismos. Não há preocupações de alinhamento entre os objectivos fundamentais e os parâmetros de avaliação e, mais grave, o avaliador sente ter poder discricionário sobre o avaliado.

Uma avaliação mal alinhada ou mal realizada, é um acelerar para a desgraça. Definir objectivos secundários de curto prazo ou o interessado ter “a faca e queijo na sua própria mão” e manipular os indicadores, é pior do que estar quieto. Num meio competitivo de dinâmica rápida isso traduz-se em mau desempenho e, rapidamente, em problemas de sobrevivência da organização.

Estas considerações vêm a propósito, como se imagina, da enorme polémica relativa à avaliação dos professores. Infelizmente parece que, antes começar, se está já a entrar em deriva. Um exemplo: se a avaliação dos professores depende do resultado dos alunos e se, em muitos casos, esses resultados são as notas dadas pelo próprio professor, sem nenhuma aferição externa….está bom de ver que irá acontecer. Inflação nas notas dadas, para ninguém se “prejudicar”.

A participação dos pais deveria ser discutida como uma questão de responsabilidade e não de poder. Mas, muitíssimo mais importante, é a definição clara dos objectivos fundamentais e a sua validação isenta: para alguns alunos, o melhor professor pode ser o que falta mais; para alguns pais, o melhor professor será talvez o mais generoso em notas. No entanto, para a sociedade o objectivo é a preparação que cada aluno recebe e que lhe permitirá criar riqueza no futuro, em retorno do investimento que nele está a ser feito e com garantia de igualdade de oportunidades para todos.

Será extremamente difícil que este processo seja justo e eficaz enquanto a “organização” não estiver sã. No entanto, a “desgraça” potencial é enorme. Que sucesso pode ter um país que tenha licenciados que não sabem interpretar nem resumir um texto simples? Isto deveria ser entendido e assumido pela comunidade como o motor fundamental da nossa riqueza futura e deveria sobrepor-se às picardias estéreis e destrutivas.

26 junho 2006

Portugal marcou…

Podem os holandeses ter-se comportado como uns sacanas de primeira categoria… Pode o árbitro ter sido um completo incompetente…

Mas, mesmo assim, que a reacção seja pancada à toa e mesmo cabeçada na testa do adversário, isso é indigno de qualquer um e, por maioria de razão, inaceitável para quem, supostamente, representa o país…

Não, com este estilo de garnizé rufia, não me identifico…

E é lamentável que, no fim, em vez de um claro repúdio e condenação, a imagem da vitória tenha abafando, tolerado e quase desculpado estes comportamentos vergonhosos.