06 julho 2006

Aritmética cega ou mérito selectivo?

Forçar uma distribuição mais equitativa entre os dois sexos nas listas eleitorais por legislação não me parece ser o bom caminho. A base deveria ser sempre uma “cultura” de mérito independente do sexo, raça, credos e outras coisas mais. Só a escolha pelo mérito permite fazer o melhor com os mais adaptados para cada função. Se se prescinde de mulheres por serem mulheres e se estas poderiam ter um desempenho melhor do que os homens que as substituem, ficamos a perder. Também ficamos a perder se se colocam mulheres nas listas somente para a aritmética bater certo.

Existem resistências que são uma questão cultural. Será que uma imposição legal é a melhor forma de as vencer? As mentalidades mudam por decreto? Não me parece! Inclusivamente, deixa um certo perfume de condescendência do “só entrou por causa da quota”, com correspondente fragilização de quem se queria proteger.

Aliás, pelo mesmo argumento do famoso direito de “igualdade” garantido pela Constituição, esta via abre caminho para que amanhã se legisle impondo quotas para homossexuais, minorias religiosas, grupos étnicos, escalões etários, classes profissionais e sei lá onde pode acabar…! E, já agora, perdoem-me a ironia, com paridade de sexo dentro de cada grupo!!! Decididamente este não é o caminho para, num mundo competitivo, fazer o melhor com os melhores!

Já chegamos ao ponto em que nos USA, nalgumas empresas com altas preocupações com o “politicamente correcto”, uma boa forma de gerir a carreira é declarar-se, por exemplo, homossexual e apanhar a boleia da “discriminação positiva”. Na dúvida, dá-se preferência a esses para não se ser acusado de prejudicar as minorias. Sem mais comentários.

3 comentários:

APC disse...

Inteiramente de acordo! Uma beijoka.

Anónimo disse...

O sistema de quotas para afectação a um lugar, categoria, grau na avaliação de uma carreira é um sistema que me parece prestar-se, em qualquer situação que seja, a injustiças. A lógica dos nºs pode não coincidir com o valor individual.

Já não tenho tanta certeza quanto à mudança de mentalidades por decreto… Não é o decreto que as muda, naturalmente. Mas o decreto obriga a mudanças e a estranheza inicial vai dando progressivamente lugar à naturalidade e ao hábito, em suma, à tal mudança de mentalidade. É lento, mas é uma forma. Será a melhor? Não sei. Mas recordo-te, a propósito, que foi um argumento semelhante o que utilizaste já para defender a participação dos pais na avaliação dos professores: venha o decreto que os pais aprenderão e se habituarão a fazer uma avaliação criteriosa!

A preocupação com as outras representatividades que referes parece-me/nos ridícula neste momento, mas talvez venha a não ser… Aliás, o que sabemos nós sobre essas representações na actualidade, escondidas e, diz-se, poderosas? Quantos ‘meninos’ da ‘obra’? Quantos do lobby gay?... (considera-as perguntas de retórica :-))

Carlos Sampaio disse...

MM

1. As quotas verticais/hierárquicas são diferentes destas quotas horizontais. Por motivos óbvios, nunca poderá haver 10 generais para cada soldado. Por isso, na hora da progressão, tanto o soldado como o coronel (é o posto anterior a general??) ver-se-ão provavelmente confrontados com quotas, com maior ou menor rigidez conforme a natureza da estrutura.

2. Realmente, a mentalidade não muda por legislação mas a legislação poderá ajudar. E, quando as coisas estão paradas, às vezes, é preciso abana-las dalguma forma. Tenho algumas dúvidas se seria este o caso. Seria mais “bonito” e mais eficaz a prazo se fosse dada igualdade de oportunidades e escolha pelo mérito.

3. Sobre as outras representatividades, pode parecer ridículo neste momento mas, pela dinâmica actual e pelo poder reivindicativo de alguns desses grupos, não estranharia absolutamente nada que aí chegássemos…! Até já começam a aparecer estatísticas, “naturalmente” polémicas e contestáveis, para o número de homossexuais que apontavam, salvo erro, para uma percentagem de 10% !! 10% já dá um bom poder reprentativo!