12 julho 2006

Clero, Nobreza e Povo

A Nobreza medieval inculta, e até em parte analfabeta, apoiava-se no Clero letrado para consolidar o seu poder temporal. A Nobreza tinha a espada, o Clero os livros e o Povo era tudo o resto que deveria seguir a regra da espada de uns e a dos livros dos outros. Ao longo de vários séculos, este casamento funcionou em pleno, chegando mesmo a ter sido passado a lei escrita. A unidade da Igreja era considerada necessária para a unidade do Estado e este argumento justificou muita coisa.

Um exemplo eloquente pelo princípio e pela prática foi a Inquisição. Além da forte promiscuidade, em muitos processos, entre os argumentos espirituais e os interesses seculares, era curioso que a Inquisição não matava ninguém. Apenas julgava e, eventualmente, condenava. O “braço secular” é que se encarregava de usar a “espada”.

Evidentemente que esse tempo já passou. Apesar de todos os defeitos de quem nos governa, já não são nobres analfabetos que necessitam de quem lhes leia os livros. E, por isso, também já não legislam de acordo com as vontades da Igreja. Chama-se a isto separação entre Igreja e Estado.

O protesto público e veemente do Vaticano pela ausência do primeiro ministro espanhol da missa celebrada pelo Papa em Valência no passado fim de semana, parece um lamento de quem foi abandonado por um parceiro que não assumiu as suas obrigações. A atitude de Zapatero terá colocado mais alguma pressão nesta Espanha à beira da ebulição. No entanto, lembrou claramente que já não estamos nessa época do famoso e simplório triângulo Clero/Nobreza/Povo.

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