08 junho 2016

Uma Aldeia Francesa


Confesso. A série agarrou-me logo no início. Por ir para lá do básico maniqueísmo habitual nestas narrativas sobre o nazismo e a ocupação. Os personagens não se dividem estaticamente entre colaboracionistas oportunistas sem escrúpulos e heroicos resistentes de grandiloquentes princípios. A realidade é e terá sido certamente mais complexa e, sobretudo, evolutiva. A ocupação não foi apenas um tsunami pontual, que na altura da catástrofe revela os covardes e os heróis do momento. Foram muitos dias, muitos meses e até anos em que a vida teve que continuar.

E, nesta luta diária, quem teve mais mérito? Daniel Larcher, o médico presidente da câmara que, pelo menos inicialmente tenta jogar o jogo com os alemães, negociar com eles, condicioná-los, minorando os efeitos nocivos para a população, ou o seu irmão Marcel, e os seus amigos comunistas que decidem matar um oficial alemão, para marcar posição, provocando o lançamento de represálias…?

A cena da diferença entre a perspetiva e a realidade do prato de puré foi magistral. A partilha final da cela e o fuzilamento simultâneo do resistente comunista e do novo presidente colaboracionista só pecou por ter sido demasiado rapidamente diluída na ação. Merecia mais tempo e profundidade. As aproximações amorosas e culturais entre partes dos dois lados são um desvio pecaminoso ou uma consequência natural da unicidade da espécie humana? A resposta não é evidente e estas interrogações fazem parte do interesse da série. Preferiria que se tivesse arrastado menos e não intricando tanto o enredo, com incontáveis e mais ou menos verosímeis percalços, felizes e infelizes coincidências, à la Jack Bauer (24), mas isso deve fazer parte da receita comercial. As denúncias por pressão sobre os afetos também me pareceram um ingrediente demasiado usado e abusado.

A minha curiosidade principal agora é ver como será tratado o pós-libertação e como na voracidade dessa mudança serão carregados ou atropelados os justos e os oportunistas. Promete…!

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