27 junho 2016

A roleta russa tinha balas

Mais ou menos na altura da primeira trinca na primeira sardinha lembrei-me: - É verdade, já se sabe o resultado do referendo no Reino Unido? – Não, só depois das 22h, responderam-me. Continuaram outras sardinhas e outras conversas sem mais me lembrar do assunto. Pareceria que o lógico “remain” ganharia, mesmo por pequena margem. No dia seguinte de manhã acordei com a surpresa do “exit”. A EU tem problemas, em parte simplesmente devidos à fraca qualidade geral dos políticos. É por estar a ser mal interpretada que deve ser destruída?

David Cameron resolveu dramatizar e jogar à roleta russa, esquecendo-se de que podia sair bala. Muitos eleitores votaram por protesto sem mediram o real resultado e a irreversibilidade do seu voto. Pagou-se também a fatura de anos de desresponsabilização ligeira, não exclusiva do UK, de políticos, mesmo pró-europeístas, do “não podemos fazer mais por causa das regras de Bruxelas.”. Temos ainda os populistas de esquerda e de direita para quem o caminho do poder passa pelas alternativas destrutivas.

Curiosamente, nos países ricos um argumento principal do contra é deixar de financiar os preguiçosos do sul enquanto os países pobres pedem “de Bruxelas que venham verbas e esqueçam lá as regras”. Está-se mesmo a ver uma roleta russa com muitas balas.

Eu ainda posso entender ser fácil os do norte comprarem a argumentação “vamos deixar para trás este lastro e andaremos mais depressa …”. Agora nós, do sul, queremos voltar ao “orgulhosamente sós”, por favor. Já vivemos esse filme e não foi bonito.

A Europa é um projeto fantástico. Provavelmente sem uma bárbara guerra anterior, nunca teria nascido. É triste e desrespeitoso vê-lo ameaçado por calculismo, demagogia e falta de visão.

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