27 maio 2016

Um mau enredo


M. nunca conhecera o pai. Este abandonara a família cedo e também cedo a sua mãe caíra em demência. Fora educado com grande esforço por uma irmã mais velha. A namorada, com estudos e tudo, era de boas famílias e nunca aceitariam um casamento de sogro incógnito. M. lançou-se na busca do pai, descobriu-o no outro extremo do país, e este aceitou perfilha-lho, mesmo sem nunca se terem encontrado.

M. arranjara trabalho e tudo se encaminhava para começar uma nova vida e uma nova família. Dois dias depois de entrar em funções, recebeu a notícia de que o pai está muito doente, lá do outro lado do país, e lançou-se à estrada, no veículo da empresa, Pretendia vê-lo pela primeira e pela última vez, após uma viagem de noite inteira. Sensivelmente a meio do percurso uma árvore de grande porte interrompeu a viagem e a vida de M. Simultaneamente a sua irmã-mãe deu à luz uma criança a quem chamará M.

Parece um mau argumento para uma novela de 3ª classe, não é?

Pois parece, mas pelo menos uma boa parte não é ficção. Fui eu quem assinou o contrato de trabalho e lhe desejou boa sorte ao entrar em funções. Dois dias depois da sua morte, fui visitar a família. No átrio de entrada do prédio estava a urna que tinha transportado o corpo ao cemitério. Lá em cima no apartamento, a namorada de boas famílias, uma mãe demente, uma irmã lutadora e uma criança de dois dias chamada M.

(Foto furtiva da zona onde ocorreu o acidente.)

Sem comentários: