16 maio 2016

Espírito comunitário

Comunidade: conjunto de pessoas identificadas com um determinado território, partilhando uma herança cultural e histórica, com regras sociais alinhadas?

Agregar vontades, partilhar valores e unir esforços é, à partida, positivo e construtivo. A identificação de um individuo com uma/sua comunidade é um motivo de satisfação e orgulho e a rejeição será, frequentemente, causa de uma enorme frustração. No entanto, não faltam guerras e outras desgraçadas alicerçadas precisamente em confrontos comunitários, muitas vezes com a clivagem num dos elementos mais marcantes da respetiva identidade: a religião.

Se recuarmos alguns séculos e pensarmos em pequenas tribos nómadas ou povoações isoladas, sujeitas a muitas ameaças naturais e humanas, a coesão interna e a partilha de valores com aliados seriam fundamentais para a sua sobrevivência. O antagonismo agressivo entre diferentes comunidades era uma constante.

Na atualidade, qual o sentido de falarmos em comunidades, de retalharmos a humanidade? Um das mais dramáticas crises comunitárias recentes na Europa foi a perseguição e exterminação de judeus durante a II Guerra Mundial. Esquecendo os líderes e as suas máquinas de guerra impessoais, tivemos gente que na véspera era vizinha (partilhava a mesma comunidade?) denunciar os “outros” e arruinar-lhes a vida. Também tivemos gente como Aristides Sousa Mendes, que arriscaram e se expuseram para salvar gente que não conheciam sequer, de outra comunidade religiosa, porque havia e há um nível comunitário superior: a humanidade.

Podemos ter a comunidade de bairro, quando se trata, por exemplo, de apoiar um clube de futebol. No entanto, no nível mais elevado, onde está a vida e a dignidade humana, a comunidade é uma e apenas uma. Haja clarividência e grandeza para subir de nível, de cada vez que a necessidade o imponha, porque, citando Jacques Brel
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Filhos de César ou filhos de nada
Todas as crianças são como as vossas
O mesmo sorriso, as mesmas lágrimas
Os mesmos sustos, os mesmos suspiros
Filho de César ou filho de nada

Todas as crianças são como a tua

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