11 fevereiro 2016

E o crescimento?

Qualquer cidadão minimamente esclarecido consegue entender que só há duas formas de acabar globalmente com a dita austeridade: ou geramos mais riqueza para poder distribuir mais, ou temos uns tios ricos a pagar as contas. Durante 30 anos recebemos rios de dinheiro da Europa rica, infelizmente nem sempre bem aplicados. Como esse canal está atualmente um pouco, digamos…, condicionado, precisamos mesmo é de “crescer” e com este princípio toda a gente concorda. É certíssimo serem necessários recursos, mas nunca serão suficientes se não forem utilizados de forma esclarecida e séria.

Sendo tudo menos garantido assumir que “distribuir” em avanço tem um efeito económico positivo, tipo boomerang, também não é nada prudente, com o nível potencialmente insustentável da nossa dívida pública, continuar a encaixar défices ano, após ano. Aliás, parece-me incoerente pedir a restruturação da dívida às 2ªs, 4ª e 6ªs e defender o seu agravamento às 3ªs, 5ªs e sábados. Até porque já descobrimos que há vida depois do défice: chama-se troika.

Este novo orçamento não consegue, portanto, milagres. Tira daqui, põe acolá. O que mais me choca, no entanto, é a falta de visão sobre as perspetivas de crescimento. Como exemplo, a reposição dos salários e das 35 horas na função pública, o regresso dos feriados, aumentar taxas indiretas transversais, reversões das privatizações (tratando a pontapé investidores de que tanto necessitamos), são relevantes e positivos para uma estratégia de crescimento?  

Estamos longe e a afastarmo-nos…

PS - Sobre a ingerência da UE e a falta de soberania. Se bem entendi a ingerência foi “apenas” limitar o agravamento da dívida pública via défice. De resto, o governo teve total autonomia para ir buscar o dinheiro onde entendeu e aplicá-lo onde lhe apeteceu.

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