29 fevereiro 2016

Sobre a concorrência das aldrabices em competência

No salão automóvel de Genebra de Março de 2012, o todo-poderoso e inquestionável CEO da VW na altura, Martin Winterkorn, anunciou com pompa e circunstancia que a empresa iria reduzir as suas emissões de CO2 em 30%, até 2015. Era um desafio para lá do razoável e do viável, mas, aparentemente, ninguém ousou contestá-lo. A “solução” passou por aldrabar, fazendo os testes com os pneus em sobrepressão e misturando gasóleo no óleo do motor.

Este episódio está relacionado apenas com um dos escândalos da marca, o do consumo e não o dos NOx, mas não deixa de ser significativo sobre a origem de muitos males e desgraças: não aceitar um não/não ter coragem de dizer o não.

Imaginemos que um técnico esclarecido e responsável dizia frontalmente ao senhor Winterkorn: “Com o devido respeito, devo afirmar que os objetivos anunciados pelo senhor são irrealistas e inalcançáveis!”? O mais certo era ser despedido por incompetência!

Independentemente de a VW ter sido a pioneira ou não, quando uma marca anuncia 30% menos de consumo, que poderão fazer as demais, ao sentirem o risco de perderem mercado e verem a própria sobrevivência em causa? Despedir os seus técnicos incompetentes por não conseguirem atingir o mesmo resultado? E após ficarem esclarecidos sobre a forma de realizar essa “poupança”, que fariam… em Roma, sê Romano? Notícias recentemente surgidas apontam no sentido de existirem mais romanos neste campeonato.

Estes escândalos irão sair caros à VW e poderão ter algum efeito moralizador, ou é sonho meu? Ficam dúvidas ao ouvir um dos responsáveis da marca ter o desplante de afirmar nos EUA que a culpa no caso dos NOx tinha sido de “um punhado de engenheiros”. Será verdade, mas apenas uma parte dela. No fundo, como em tantas coisas, é uma questão de cultura.

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