19 novembro 2015

Empresas, donos e histórias

Passou há pouco tempo na RTP2 uma série sobre a família Krupp, fundadora da empresa alemã com o mesmo nome, um dos maiores impérios industriais do século XX. A ação decorre fundamentalmente nos palácios da família, em torno dos seus conflitos, dramas e estoicidades, sem abordar as dificílimas condições de trabalho nas fábricas e referindo apenas muito ao de leve os registos esclavagistas e criminosos da fase do III Reich.

Manter uma dinastia viva e pujante não é tarefa fácil e uma boa parte do enredo estava construído precisamente em torno da forma(ta)ção muito exigente e tensa do herdeiro designado.

No final, há um acontecimento assinalável. A propriedade da empresa é transferida da família para uma fundação, um processo que merece alguma reflexão. Se tudo nasce, cresce e morre ou se transforma, a transformação de um grande património familiar numa fundação (falamos, obviamente, de fundações a sério) é admirável em significado e em potencial. Para lá do prescindir da propriedade de um bem, está em causa abandonar o objetivo básico de criar riqueza para si e colocar o património numa instituição sem fins lucrativos, incorporando uma função social relevante. Isto possibilita um campo de intervenção infinitamente mais amplo e potencialmente gerador de outras riquezas, noutros campos, que uma lógica de gestão de acionista/investidor dificilmente permitiria.

Voltando à série e aos Krupp, há uma conclusão muito clara. Uma empresa de corpo inteiro é uma entidade viva, gerida, liderada e sentida, não um simples título que voa de mão em mão, conforme o vento. Há donos das empresas que as vêm como algo criado, construído e com um valor para lá do contabilístico; há outros, para quem elas são apenas um ativo transacionável, que pode entrar ou sair a qualquer momento dos seus livros, conforme a oportunidade.

As primeiras fazem a história, as segundas vagueiam de estória em estória.

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