02 novembro 2015

E aos costumes disse nada

Em memória de José Fonseca e Costa, evoco o filme “Sem sombra de pecado”, que tive a oportunidade de ver na altura do lançamento em sala. Um belo filme que nem parecia cinema português, pelo menos dentro dos padrões da altura. Imaginem que até se ouvia e entendia perfeitamente o que os atores diziam, contrariamente à “tradição”, que tornava quase necessário utilizar legendas.

Um bom filme que se via agradavelmente, numa altura em que um filme português ser bom equivalia a ser denso, a mais não poder. Se o povo não achasse chato, era comercial e não prestava.

Este filme, “comercial”, tecnicamente cuidado e bem feito, tinha um enredo em cima de um belo conto de David Mourão Ferreira, que não escrevia nada mal: “E aos costumes disse nada”. O elenco incluía Mário Viegas, sobre quem nem vale a pena procurar muitas palavras para o adjetivar: brilhante e genial.

Na altura, não tinha visto o “Kilas”, anterior, eventualmente mais representativo. Para mim, foi com este e com José Fonseca Costa que entendi ser possível fazer cinema de qualidade em Portugal, sem aquele peso elitista e a poder ser visto e apreciado por um público alargado.


Nota adicional em 4/11/2015. Após este texto ter saído no Público de 3/11/2015, recebi uma mensagem do amigo Fernando Rodrigues, assinalando-me a injustiça de não ter mencionado também Vitória Abril, que tem uma interpretação magnífica. Ele tem toda a razão e aqui fica a referência que faltava.

Sem comentários: