19 setembro 2014

A fábrica

Leio hoje que a Cerâmica de Valadares irá retomar a produção. Não sei o suficiente para julgar os méritos e os deméritos de quem a geria quando caiu e de quem a retoma agora. Uma coisa parece-me evidente: com a situação actual da construção na Península Ibérica a missão não será fácil.

O meu pai trabalhou quase toda a vida “na cerâmica”, que às vezes até era simplesmente “a fábrica”. Os tempos não eram para luxos, mas “a fábrica” era uma referência muito forte. Não apenas pela estabilidade que transmitia, mas também pela sua força como referência comunitária. Não me recordo de tudo, mas as actividades desportivas, sociais e culturais, formais e informais, estavam lá em cada esquina, marcando fortemente o tempo livre do meu pai e também, em parte, da família.

Não seria caso único e talvez ainda existam outras “fábricas”, sobreviventes, com esse cariz e essa força comunitária. Poderão não ser exemplos de eficiência ou de sucesso económico, mas mereciam ser estudadas. Certamente que quem vive, porque trabalhar também é viver, em empresas que são compradas e vendidas a cada passo, onde o objectivo é esbeltar ou engordar o porquinho, melhorar a sua aparência, seguindo naturalmente as melhores práticas de gestão, para melhor serem vendidas a seguir, não viverá muito bem.

As melhores práticas de gestão dizem que as pessoas e a sua motivação são importantes, mas a prática não é algo que possa ficar pela montra. Motivação e identificação não se decretam, constroem-se. Muitas vezes serão construídas com sucesso por quem não leu livros de gestão, mas que sente as pessoas. E desejo boa sorte à nova velha fábrica .

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