27 fevereiro 2010

Sebastianismo

A Claude pediu e eu já não fui a tempo de dar umas ideias e visões sobre o Sebastianismo para um trabalho que ela estava a preparar. Não consegui digerir o assunto em tempo útil. Entretanto recebi uma cópia do trabalho dela, excelente, e ... é sempre mais fácil dar um palpite após ver algo já feito do que começar na folha em branco.

O mito do Sebastianismo hoje é numa primeira abordagem associado a um “saudosismo” serôdio. Um pouco como aquele clube de futebol lá de capital que até ainda há bem pouco tempo achava suficiente dizer: “Já fomos grandes, havemos de reencontrar as glórias passadas”, sendo que a estratégia, o trabalho e o suor necessários para lá chegar são um pormenor facultativo. Um pouco ao estilo da fatalidade mediterrânica, margem norte e margem sul, que diz: “Se Deus quiser.../Inch’allah...”, como se atingir um objectivo, pouco ou muito ambicioso, dependesse exclusivamente da vontade de um deus, declinado diferentemente conforme o contexto, e não do empenho, do compromisso .. e do suor.

Mas essa visão do Sebastianismo talvez seja redutora. É que há muitas situações em que o racional diz que “não vamos lá, não temos meios suficientes, tempo, é absolutamnte impossível, é uma batalha perdida à partida, etc...”. E, nessas alturas, a força anímica tem que vir do irracional, do místico e de acreditar que o impossível pode ser possível, tal como o regressar um dia de um redentor numa manhã de nevoeiro. Aliás, o tempero do nevoeiro é curioso. O inexequível e o insensato não se dão bem com a luz franca.

Em resumo, uma postura de acção, ou mais propriamente de inacção, baseada numa espera de algo que nunca irá acontecer é muito negativo e fatal. Agora, no desalento, na mó mais baixa, acreditar que a motivação da acção pode ter uma base irracional é talvez a única saída. E também é verdade que Portugal é um país com uma identidade de aço e que inventará e acreditará no que for preciso para subsistir.

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