03 fevereiro 2010

Compulsos (3)

(Começou em)
Bem-vindos! Bem-vindos a este círculo dos compulsivos. Todos temos pulsões e compulsões, apenas a sua natureza e ponderação muda. Se as misturarmos e distribuímos na boa medida, seremos todos normais.
Eu, eu não consigo deixar de chorar ao ouvir uma voz feminina cantar uma balada suplicante, daquelas que vêm lá do fundo com palavras de amor, eternidade e outras declarações empolgadas e ternas. Não deixo de chorar nem deixo de ouvir e repetir e repetir ininterruptamente.

Foram respondendo os outros que gostavam de ver isso na televisão, que geralmente essas cantoras eram irresistivelmente atraentes, que já tinha comprado vários CD’s desses e que era um grande gozo fazer uma ultrapassagem com uma música dessas bem alta.

Outra dizia que não conseguia deixar de ler em voz alta, qualquer painel ou anúncio na rua: o nome da rua, do hotel, do restaurante, a publicidade da cerveja, as placas topográficas, as indicações de itinerário, os títulos dos jornais nos escaparates, as ementas nos restaurantes, os horários dos comboios...

Ora..., isso é quase normal, disseram todos...

Mais uma vez ele foi acusado de quebrar o círculo e ela esticou o tronco pedindo mudamente a palavra com autoridade.
Quando risco esvazio-me tentando substituir um recheio que não me agrada. Quanto mais me desagrada, mais premente e violento é o risco. Coisa de acelerar a renovação, coisa de me manter activa. Porque se está algo sempre a sair, é porque alguma coisa se está lá dentro a criar, não é?
Parou abruptamente. Daquela vez tinha ido longe de mais. Só faltou ter dito que sentia necessidade de mudar a pele de dentro como as cascavéis mudam a pele de fora. Sim, tinha parado e olhando o sorriso que ele lhe dirigia, por um momento, sentiu-se bem estando parada.
Continua para

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