26 fevereiro 2009

Cimpor, Fino e CGD

Manuel Fino pediu dinheiro à CGD para comprar uma parte da Cimpor e para garantia apresentou as acções compradas. É normal, um pouco como quando pedimos um empréstimo habitação e hipotecamos a casa adquirida em favor do banco.

Por um motivo ou vários, a CGD ficou agora com essas acções. É como quando ser entrega a casa ao banco por não se poder pagar o empréstimo. Até aqui nada de muito estranho, salvo que:
  1. Manuel Fino tem a opção de recomprar as acções e a CGD não as pode vender a terceiros durante um período de três anos;
  2. As acções foram transaccionadas a um valor superior em 25% à cotação actual em bolsaOu seja, eu entrego a casa ao banco, a bom preço, e por um bom período ele não a pode revender a terceiros – não é normal! Foi mais um parqueamento de participação do que uma transacção!
Diz a CGD que como as acções caíram já não serviam de garantia e teve que intervir. Não me convence. Não vejo a CGD a tomar iniciativa e a proporcionar tanta polémica por isso. O objectivo era “apenas” salvar financeiramente Manuel Fino? Pode ser, mas a que propósito se acrescentaram os 25%?

Tenho um palpite: provavelmente o valor real da Cimpor será, passada esta tormenta, superior à actual cotação em bolsa e Manuel Fino pode muito bem ter recebido uma proposta com essa valorização. E perguntou a quem de direito: eu preciso de vender a posição da Cimpor e posso vender a este preço; se quiserem que a Cimpor continue portuguesa, até que eu eventualmente a recupere mais tarde, terão que igualar. E lá foi a CGD fazer o frete.

É apenas um palpite mas estes 25% a mais são mesmo difíceis de explicar sem palpites.

24 fevereiro 2009

D. Nuno e D. Guilhermina

Quem diria que no dobrar do século XX para o XXI D. Guilhermina viria a ter assim tamanha influência para o registo histórico de D. Nuno, tendo este vivido entre os séculos XIV e XV? É que D. Guilhermina vai ser determinante para a canonização de D. Nuno Álvares Pereira. Uma reza intensa e um beijo na imagem do beato fê-la recuperar de uma lesão no olho esquerdo, atingido por óleo de cozinha a ferver, e permitiu-lhe voltar a ver televisão tranquilamente. E assim tivemos o milagre que faltava.

Sei pouco sobre o Condestável para lá de ter sido uma das grandes figuras da História de Portugal e ter dado uma grande coça aos castelhanos na batalha de Aljubarrota. Se o facto de se ter tornado monge no final da sua vida, o torna merecedor do destaque de ser santo, não consigo avaliar.

O que é seguramente ridículo é que esse mérito não seja avaliado com base nos seus actos e princípios evidenciados em vida, mas sim pela sugestão que exerceu numa Guilhermina, 500 anos depois.

Enfim, não dignifica a igreja e de repente lembro-me de quão certa estava a minha ironia atrás, a propósito dos outros três de Fátima.

19 fevereiro 2009

Histórias em Romance

No mesmo dia em que a SIC apresentava a versão “D. Juanesca” de Salazar, que não vi, folheei numa livraria mais um romance histórico que tão na moda estão, desses recheados de revelações bombásticas de segredos bem escondidos. Neste caso, tratava-se de uma tal “História Secreta de D. Sebastião” por uma tal Sónia Louro. Claro que é um tema apelativo. Infelizmente um simples folhear das páginas mostra que Sónia Louro escreve mal, ou que o revisor estava muito distraído. Vendo o curriculum e a idade da mesma fica-se a pensar: onde é que esta arranjou assim do pé para a mão tanto material secreto…?!

O que João Aguiar escreve em romance histórico sobre Viriato, Sertório ou Prisciliano eu leio e dou crédito. Agora que um fedelho/a se ponha para aí a escrever sobre figuras históricas como quem conta as férias secretas do Cristiano Ronaldo ou revela o último amante plebeu de Estefânia do Mónaco e lhe chame “histórico”, isso já é um abuso.

Obviamente que o sucesso é grande porque da mesma forma como o povo adora saber tudo sobre as férias do Ronaldo e os plebeus da Estefânia, também achará giro ler assim umas coisas diferentes sobre aqueles que andam por aí majestosamente instalados em pedestais públicos e com o nome nos títulos dos capítulos dos manuais de história. Se isso ajuda a conhecer a história, já é outra questão e aparentemente pouco relevante para quem escreve, publica e lê estes romances históricos "light"s.

Bom, apesar de tudo fico curioso em saber se realmente o tosco de S. Comba era assim um predador … Seguramente que, depois deste pontapé de saída da SIC, livros “históricos” sobre o assunto não irão faltar. Se esclarecem ou não, é outra questão. Ao fim e o cabo uma mentira divertida é sempre mais interessante do que uma verdade enfadonha. Saber? Conhecer? Para que serve? Que valor tem?

15 fevereiro 2009

Duas faces

Face A)
2.000 garrafas de champanhe francês, 8000 lagostas, 100 kilos de gambas, 4000 doses de caviar, 3000 patos, 16000 ovos e 8000 caixas de bombons.
Face B)
7 milhões de pessoas necessitando de ajuda humanitária diária para não morrerem à fome, 60 000 pessoas infectadas pela cólera, 3000 já mortas, malária e sida de vento em popa, sem controlo, 94% da população desempregada, inflação de 231 000 000% ao ano.

Estas duas faces coexistem no mesmo país: Zimbabwe. A primeira refere a preparação da festinha de anos de Robert Mugabe para o próximo dia 21 deste mês; a segunda diz respeito à forma como vive a maioria da população.

Não vale a pena tecer muitos comentários sobre esta obscenidade. Com a África na mão destes africanos apetece dizer: voltem colonizadores que estão perdoados!
Fonte: El País

09 fevereiro 2009

Eluana Englaro



Eluana Englaro "morreu" após 17 anos sem vida. E apanhou distraídos uns certos guardiões, não sei bem de quê, que se entretinham ainda a argumentar, procurarando anular a autorização legal e tentando cinicamente "salvá-la".
Não há a mínima dúvida científica sobre a completa irreversibilidade de certas lesões cerebrais e estes 17 anos de Eluana e de tantos outros idênticos não podem ser considerados "vida".
Só quem nunca presenciou o vazio atroz destas "existências" e a semi-morte que o convivo diário dos seus próximos com elas representa poderá usar a palavra vida neste contexto. Quem nunca viu pode fazer um esforço e imaginar. Ou então, passar uma semana junto a um deles e, em seguida, tentar imaginar o que serão 5, 10 ou 15 anos.
Não, decididamente não! Não basta respirar para viver.

03 fevereiro 2009

Kayen Hotel Makech



Em árabe “Kayen” significa “há/temos” e “Makech” significa “não há /não temos” (os “a”s lêem-se muito mudos). São palavras usadas com muito frequência, o “Kayen…?” numa interrogativa esperançada e o “Makech…!” em resposta desolada. O título acima poderia ser traduzido então por “Existe Hotel Não Temos”

O Hotel Ritane Palace de 4 estradas, perdão de 4 estrelas, em El Oued, que visto de fora nem parece muito mau, foi crismado “Hotel Makech”, dada a frequência com essa palavra aparece nas respostas às questões colocadas. A foto abaixo de como eu encontrei a sanita do quarto já dá uma ideia do que lá Makech, ou do Kayen que não devia lá estar. Lençóis sem buracos: Makech. O prato da ementa que queríamos: Makech! Água quente para o duche: às vezes Kayen, outras vezes Makech!

Makech comando do ar condicionado. Telefonar para a recepção pelo telefone, daqueles de disco de andar à roda a gerar impulsos… ligação Makech. Tentar o número da telefonista e confirma: comando no quarto Makech! Ligam o aparelho a partir da recepção.

Toalha das mãos no quarto do banho: um dia Kayen, outro dia Makech! Combinação do sabão com a água local: Makech espuma. Saco para a roupa suja Kayen mas abertura Makech. São duas folhas plásticas soldadas em vários níveis que se recusam a abrir e a formar um saco. Uns hóspedes de estada longa contam que serviço de lavandaria Kayen mas a roupa enviada para lavar já há 2 semanas… Makech!