19 fevereiro 2009

Histórias em Romance

No mesmo dia em que a SIC apresentava a versão “D. Juanesca” de Salazar, que não vi, folheei numa livraria mais um romance histórico que tão na moda estão, desses recheados de revelações bombásticas de segredos bem escondidos. Neste caso, tratava-se de uma tal “História Secreta de D. Sebastião” por uma tal Sónia Louro. Claro que é um tema apelativo. Infelizmente um simples folhear das páginas mostra que Sónia Louro escreve mal, ou que o revisor estava muito distraído. Vendo o curriculum e a idade da mesma fica-se a pensar: onde é que esta arranjou assim do pé para a mão tanto material secreto…?!

O que João Aguiar escreve em romance histórico sobre Viriato, Sertório ou Prisciliano eu leio e dou crédito. Agora que um fedelho/a se ponha para aí a escrever sobre figuras históricas como quem conta as férias secretas do Cristiano Ronaldo ou revela o último amante plebeu de Estefânia do Mónaco e lhe chame “histórico”, isso já é um abuso.

Obviamente que o sucesso é grande porque da mesma forma como o povo adora saber tudo sobre as férias do Ronaldo e os plebeus da Estefânia, também achará giro ler assim umas coisas diferentes sobre aqueles que andam por aí majestosamente instalados em pedestais públicos e com o nome nos títulos dos capítulos dos manuais de história. Se isso ajuda a conhecer a história, já é outra questão e aparentemente pouco relevante para quem escreve, publica e lê estes romances históricos "light"s.

Bom, apesar de tudo fico curioso em saber se realmente o tosco de S. Comba era assim um predador … Seguramente que, depois deste pontapé de saída da SIC, livros “históricos” sobre o assunto não irão faltar. Se esclarecem ou não, é outra questão. Ao fim e o cabo uma mentira divertida é sempre mais interessante do que uma verdade enfadonha. Saber? Conhecer? Para que serve? Que valor tem?

10 comentários:

APC disse...

Não admites, portanto, que alguém que consideras fedelho faça alguma coisa que apenas esperarias em alguém que não considerasses fedelho, é isso? Era só para ver se tinha entendido a mensagem. É que também há fedelhos a pôr em causa as capacidades mentais daqueles a quem chamam velhos apenas porque são... mais velhos! E nós não gostamos nada de ver isso, como se compreende. Dizemos que é preconceito. E não tem mal algum sentirmos, aqui e ali, mais ou menos confiança nas capacidades dos outros face à experiência de vida que nos parecem deter, é claro (compreendo bem o fundo da tua mensagem, como imagino que imagines); agora, negar todas as possibilidades face ao desconhecido, também não é muito jeitoso. And I wonder: quantos alegados investigadores históricos nada fedelhos, terão feito umas boas fedelhices de livros, que o povo até comprou sossegadito porque se tratava de alguém crescido em anos? Na volta, a idade é mesmo um posto, e com mais umas dezenas de anitos em cima, aí sim, já nos podemos arrogar no direito de exibir segredos sobre o que foi vários séculos antes de nós. Que achas? Enfim, são coisas!

PS - Não conheço a senhora, não lhe conheço nem a escrita, nem a obra, nem a idade. E até detesto a má formulação literária. Contudo...

Carlos Sampaio disse...

Não, nem toda a gente será como o Vinho do Porto e também há vinho da mesma origem e tratado com o mesmo processo que envelhece mal.

Correcção:

Não fui feliz na expressão. Quando falo em fedelho, falo em fedelho de atitude, não necessariamente de bilhete de identidade. E há muita gente crescida em anos que não deixa de ser fedelha.

A questão é que quando vejo uma formação e um percurso profissional que não têm nada a ver com a história, significa que a formação terá sido feita nos tempos livres... e ...
Acho que as coisas sérias exigem esforço e dedidacação. Não se fruto de "simples curiosidade"

Anónimo disse...

EhEhEh
Tem toda a razão sr. Carlos Sampaio. Eu só acrescentaria a seguir a fedelha, que ela também é gira. Ora todos sabemos que as mulheres giras não podem ser inteligentes. Logo, que atrevimento o dela, não só escrever um romance como ainda o chamar histórico. Estes casos têm de ser denunciados! Fico contente por ainda existirem pessoas como o senhor no nosso país!

Carlos Sampaio disse...

Caro/a Anónimo/a


Por muito crítico que seja este ou outro registo, a minha crítica é baseada em análises fundamentadas, justificadas e naturalmente passíveis de serem debatidas, esclarecidas e até refutadas. Os comentários serão respondidos se tiverem a mesma postura. Ironias gratuitas, infelizmente, não são passíveis de serem aprofundadas.

PS: Não, não sabia que a Sónia Louro era gira. Fui verificar e digamos que não é feia, mas também não atinge aquele limiar do “boa loura burra”.

Anónimo disse...

Novamente tenho de lhe dar razão, até certo ponto (sou o mesmo anónimo de cima). Eu concordo que as críticas gratuitas não são passíveis de serem aprofundadas, mas o que é que merece uma crítica baseada em análises elas também gratuitas? Diz que a sua crítica é baseada em análises fundamentadas e justificadas, mas como é que isso pode ser verdade se o próprio Carlos diz que folheou o livro, não diz que o leu (eu li-o). Isso é a sua noção de fundamentado? Depois ainda escreve : “Vendo o curriculum e a idade da mesma fica-se a pensar: onde é que esta arranjou assim do pé para a mão tanto material secreto…?!” Continue a folhear e vê que ela tem algumas 4 páginas de bibliografia e antes disso tem imensas notas de rodapé (não tenho presente o número, nem o livro para confirmar) tudo com a bibliografia bem mencionada.
Por outro lado, acha que ela não pode escrever um bom romance histórico e baseia a sua opinião, não na leitura como o próprio deixou claro e eu volto a repetir, mas no preconceito do percurso académico da autora. Por isso também pergunto: E o José Rodrigues dos Santos? É historiador? É físico? É geólogo? É meteorologista? Não, é jornalista! Segundo o seu ponto de vista ele também não deveria ter escrito os vários livros que escreveu, cada um com as temáticas acima referidas.Ou a regra para ele já não se aplica porque tem as luzes da ribalta sobre ele e por isso o que escreve há-de merecer crédito?

Carlos Sampaio disse...

Caro Anónimo/a (é "chato" não haver um nome próprio a usar...)

Tenho que confessar uma pequena "batota". Eu apenas folheei o livro, é certo, mas depois disso confrontei as minhas impressões com alguém que o tinha comprado e lido (parcialmente) e a quem dou crédito.

Sobre o Rodrigues dos Santos não li nada, mas uma coisa é um romance situado num dado momento, inserido num dado contexto histórico, mas apenas uma história de gente; outra coisa é desvendar a "história secreta" de uma figura histórica entrando até por aspectos afectivos e íntimos...

Anónimo disse...

Muito prazer, chamo-me Pedro Xavier
Entrei sp como anónimo pq nca julguei prolongar tt a conversa e de cada vez achei que seria a última.
Pois eu li (completamente) e gostei e tb confrontei as minhas impressões com alguém que o tinha lido e a impressão era a mm q a minha. Mas a questão, acho eu, não é ver quem tem razão: se eu pq gosto, ou se o Carlos pq não gosta. Toda a gente tem direito a gostar e a não gostar de uma determinada coisa. O que não me pareceu certo foram os seus fundamentos.

Eu tb li o José Rodrigues dos Santos e mais uma vez posso dizer-lhe q está enganado no que diz. A Filha do Capitão e a Vida num Sopro são de facto “um romance situado num dado momento, inserido num dado contexto histórico, mas apenas uma história de gente”, mas o Codex 632 não. Com o Codex tb se pretende desvendar uma verdade escondida, encoberta ao longo de séculos, culminando com a descoberta de que Cristóvão Colombo era português. E onde é que ele foi encontrar esse tal material secreto? Aposto que os dois foram aos mesmos sítios: Torre do Tombo, Biblioteca Nacional, etc. Nenhum deles encontrou material bombástico escondido ou perdido em algum sítio secreto numas catacumbas quaisquer. E isso não tem mal nenhum e nem eles nca afirmaram tal coisa. Eles apenas fazem, com material já existente e à disposição de toda a gente, uma reinterpretação da história conhecida, transformando aquilo que escreveram, não numa verdade absoluta (creio que não terá sido intenção de nenhum dos dois), mas numa história alternativa e muito plausível que pode muito bem ter sido verdade ou não…Mas com tt investigação eles fazem-nos duvidar e a piada está aí! E qto a aprender, aprende-se em ambos.
Qto ao físico, meteorologista, etc do JRdos Santos, isso já tem a ver com a Fórmula de Deus e o Sétimo selo, respectivamente. E servia para ilustrar q ele tb põe (e muito) foice em ceara alheia… Mas ele investigou, ou se preferir “a formação terá sido feita nos tempos livres”, que no caso dele hão-de ser poucos avaliando por todas as suas ocupações. Mas lá está, no caso o JRdos Santos é válido, no da Sónia Louro não. Este dualismo de valores, utilizado seja com quem for, tenho de confessar que me aborrece e muito!

Carlos Sampaio disse...

Caro Pedro Xavier

Não sei se existe esse dualismo de critérios entre os dois autores. Acho que o J. R. Santos “escreve” melhor do que a Sónia Louro e isso também conta para a avaliação global das obras.

Agora, este caso apenas serviu apenas de ilustração. O meu objectivo não é atacar especial ou individualmente esse livro/autora. Falo do geral e desta proliferação incontrolada e suspeita de “novas visões da história”.

Maria Manuel disse...

A mim o que me desencantou no livro A vida secreta de Dom Sebastião foi a escrita incorrecta da autora. Constantes atropelos da gramática são inadmissíveis e deviam dar direito a reclamação, retoma e reembolso.

Se as pessoas crêem ter assunto para livros, mas não dominam a técnica da escrita, socorram-se ao menos de uma séria e boa ajuda!

Ficam alguns excertos, para proveito e exemplo de quem os possa aqui ler e reconhecer. Os outros, os incautos que, menos avisados, ficam a sós com o livro, para esses será apenas mais uma má influência, a somar às das conversas de rua, às dos maus jornalistas, etc…

«Talvez achais (por “acheis”) que tendes finalmente razão…», p. 19

«(…) ainda para mais que fosteis (por “fostes”) vós que instituísteis (por “instituístes”) a Santa Inquisição (…) Calai-vos vós, mulher! – Ordenou o rei, levantando furioso a mão no ar e deixando-a ali ficar por instantes. – Não vos esqueceis (por “esqueçais”), - continuou, baixando a mão, - que o meu irmão (…)», p. 20

«Esta armadura (…) hoje é vossa, pois mais ninguém depois dele e antes de vós foi digna (por “digno”) de a usar», p. 34.

«Sabeis que não preciseis (por “precisais”) de pedir nada disso (…)», p.36

Fastidioso continuar.

Goste-se ou não de D. Sebastião, há que reconhecer que merece ser tratado em bom português e nós, leitores, tínhamos com certeza melhor destino a dar aos 20 euros e pico que o livro custou… :-(

Anónimo disse...

Facto: Sônia louro escreve mal e duvido da sua capacidade de trabalho d investigação pq a conheco. Nunca trabalhou na vida,vive em casa dos pais e a ser governada por eles o que torna toda esta situação de escrever livros muito estranha. E passa a vida a fazer jogging, parece a Madonna!
Rita Cabete, Moita