19 maio 2005

Ridículas paradas

Ao ver a fotografia de Putin e Bush, todos bonitos, a avançar e a acenar no automóvel clássico, pensei que estariam a inaugurar um parque temático. Mas não. Fazia parte das comemorações do fim da II Guerra Mundial. Nestas comemorações há alguma coisa desajustada.

Independentemente de na sua origem directa, ter estado uma figura perigosa e sinistra, a II Guerra Mundial não foi uma guerra dos bons contra os maus. A Rússia? Foi dos maus no início e dos bons no fim? Como outras, esta guerra foi “apenas” um conflito de interesses ocorrido numa altura em que os exércitos eram os argumentos geo-estratégicos de primeira linha. Obviamente que nem é necessário perguntarem-me qual o “interesse” que eu prefiro.

Também de referir que os EUA não entrarem na guerra para ajudar a Europa, nem por princípios éticos ou morais. Entraram em defesa dos seus próprios interesses políticos e económicos. Como prenda, no final, receberam uma mina de ouro sem fundo. Na conferência de Breton Woods, ficou decidido que a moeda mundial de referência seria o dólar americano e que eles poderiam imprimir tantos quantos quisessem. Durou formalmente até 1973.

Parece-me patético que 60 anos depois ainda se fale de vitórias. Que se ignore que houve barbárie de ambos os lados e que, só por exemplo, o bombardeamento de alvos exclusivamente civis para desmoralizar o adversário foi Roterdão e também foi Colónia; foi Londres e também foi Dresden.

Mais grave. Parece-me ainda não esclarecido o que foi colectivamente o nazismo. Não é um louco sozinho que arrasta um país instruído. Durante anos funcionou uma grande máquina tenebrosa. Essa máquina teve a adesão activa, efciente e dedicada de muita e muita gente da Europa das luzes.

É assustador que 60 anos depois seja necessário legislar para proibir partidos xenófobos e manifestações neo-nazis. E que essas simpatias não se resumam só a jovens zaragateiros. Não se pode dizer que seja por falta de informação. Quanto mais não seja pelo canal, deformado é certo, dos filmes, toda a gente viu campos de concentração e a sua brutalidade insana.

Visitei Bergen-Belsen. Pouco há de material. Somente um ar de chumbo que nos sufoca com milhentas interrogações.

Por tudo isto, estas comemorações deviam centrar-se nas interrogações que permanecem e não em ridículas paradas.

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