O sucesso do “Código da Vinci” e a controvérsia associada convidam a colocar uma série de questões.
Em primeiro lugar, o seu êxito é, em muito, devido à forma como está “contado” e como gere o desenrolar da acção puxando o leitor de capítulo em capítulo. Um estilo que, para o final, chega a pecar por demasiado repetitivo. A sua passagem para filme seria muito mais interessante como série de episódios do que como clássica longa-metragem.
Quanto ao conteúdo, ele é, para muitos, extremamente apelativo: A história oficial está “mal contada”, os “poderosos” manipulam a informação que nos chega, há muita coisa à nossa volta, aparentemente banal, mas cheia significado oculto. Para muitos é irresistível a atracção pelo contra-poder e pela contradição do conhecimento comum. Se se provasse que o assassínio de J.F. Kennedy em 1963 foi um acto isolado, quantos pessoas continuariam a não acreditar e a insistir emocionalmente na teoria da conspiração?
Um perigo associado a este e a todos os romances que visitam factos/personagens históricos é a falta de rigor e a potencial mistura que ficará nos leitores entre a ficção e a realidade. Para quantos milhares não terá ficado como ponto assente que Leonardo foi realmente um grão-mestre da ordem do Priorado do Sião? Pobre da Vinci! Compete aos leitores serem rigorosos e prudentes nas suas leituras mas, por outro lado, é muito mais interessante ler um romance histórico do que um compêndio de História.
Por outro lado, também, quantos milhares de portugueses não terão a ideia de que Viriato foi um pastor tosco que atirava pedregulhos aos romanos, do cimo de um penedo da Estrela? Pobre Viriato! São ainda inúmeros os exemplos de histórias oficiais com dados deliberadamente omitidos ou deturpados. Daí que não serão tanto de estranhar as fortes apetências de alguns pelas “contra-histórias”.
Voltando ao conteúdo do romance, gostaria de apontar dois factos. O primeiro é que o culto pela divindade no feminino não é algo assim tão apagado da espiritualidade católica tal como é vivida. Se formos inquirir os crentes sobre os símbolos principais da sua fé, creio que as “Nossa-senhoras” são objecto de uma devoção que supera todos os santos e santíssima trindade juntos.
Outro aspecto é a ausência de Portugal naquela macedónia de símbolos e lendas esotéricas. Vejamos. Os Templários foram extintos em 1312 para o Rei Francês Filipe o Belo limpar a sua conta-corrente e, se possível, se apropriar das suas riquezas fabulosas. As riquezas nunca apareceram e nasceu o mito do tesouro dos Templários: para onde foi e se era material ou de conhecimento.
Em Portugal, D. Dinis, ”o plantador de naus a haver”, limitou-se a mudar-lhes o nome para Ordem de Cristo. Os descobrimentos são impulsionados pelo Infante D. Henrique, Grão-mestre da Ordem de Cristo. Não é difícil especular que as riquezas e, principalmente, os conhecimentos dos Templários tenham estado por trás do empreendimento. A Cruz de Cristo, derivada da dos templários, decorou as velas das caravelas e está hoje, por exemplo, nos aviões da nossa Força Aérea. Que história secreta estará escrita na fabulosa janela da sala do capítulo do convento de Cristo em Tomar?
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