Há uma passagem inesquecível, para mim, no “Cem anos de solidão” de Gabriel Garcia Marquez, quando o coronel Aureliano Buendia, cansado de travar inúmeras guerras e desencadear incontáveis revoluções, decide fazer a paz. Aí descobre que é muito fácil começar uma guerra mas que é extraordinariamente difícil terminá-la de forma honrada para ambas as partes.
Penso frequentemente nesta passagem antes de “comprar uma guerra”. Não significa que a “guerra” tenha que ser sempre evitada a todo o custo, nem se trata de ser indeciso ou pouco determinado. Significa que convém ter presente que talvez não seja possível, após começar a guerra, encerrá-la fácil ou honrosamente.
Vem isto a propósito da actual utilização banalizada do vocábulo “agressão”. Os objectivos não devem ser claros e ambiciosos mas sim “agressivos”. As estratégias não devem ser esclarecidas e consequentes mas sim “agressivas”. As posturas não devem ser activas e determinadas mas sim “agressivas”. E por aí fora...
Dá um pouco a ideia de que quando não se sabe muito bem o que fazer, desatar à patada é sempre uma boa opção. É politicamente correcto e, mesmo se se perder, não se pode dizer que não se lutou.
Talvez seja melhor ir à luta do que ficar parado a apanhar. No entanto, um mundo em que todos dão coices, é um mundo mesquinho em que pouco se constrói e muito se destrói. Além disso, brigões sem visão não costumam ficar para a história.
1 comentário:
Excelente reflexão sobre o tema "agressão". A diferença entre os bons e os maus livros é precisamente essa: os bons dão sempre excelentes pontos de partida para reflexões particulares.
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