29 março 2025

Salafismo no BE


Quando os canhões da I Grande Guerra se calaram, o mundo muçulmano sunita entrou num período de crise e de choque. O Império Otomano, seu bastião, tinha lutado do lado dos vencidos e a outrora poderosa força que dominara todo o Médio Oriente e grande parte do Norte de África, já enfraquecida antes do conflito, desmorona-se e desaparece.

Na sua sede e origem, a atual Turquia, Kemal Atartuk vai criar um novo Estado, muçulmano certo, que o digam os ortodoxos gregos e arménios que por lá andavam, mas laico, com a religião nas mesquitas e fora de escolas, tribunais e parlamento.

Ao mesmo tempo é extinto o califado, desaparecendo o Califa, o líder religioso global e reconhecido sucessor de Maomé. Imaginem que, se na unificação da Itália, em vez de o Papa passar a administrar apenas um bairro de Roma, tivesse desaparecido de vez a função. Um grande choque seria, não?

Neste processo de desagregação do mundo muçulmano, surgem reflexões do tipo: Se no passado, na origem, eramos poderosos e depois enfraquecemos, a solução passa por regressar à “pureza original”. A isto se chamará salafismo, palavra relacionada com origem e raiz, sendo o movimento mais impactante, ainda hoje, a Irmandade Muçulmana, nascida no Egito.

Como é óbvio estas visões retrogradas e anacrónicas não trouxeram muito brilhantismo e sucesso ao Islão.

Contextos e dimensões à parte, a opção do Bloco de Esquerda em ir chamar os seus “fundadores”, parece ser um reflexo com a mesma inspiração. Quanto ao resultado, logo se verá, mas as estratégias de “ó tempo volta para trás”, nunca trouxeram grande progresso.

25 março 2025

A angústia do deputado face à Camara Municipal

Tempos houve em que o Presidente da Câmara Municipal era uma personalidade local e com pouca projeção nacional. Posteriormente os partidos descobriram que apresentarem uma figura pública “conhecida”, mesmo caída, com ou sem paraquedas, numa autarquia qualquer podia ser um “vantagem”…

Assim vemos serem apresentados/sugeridos para autarquias relevantes, personalidades “notórias”, que, naturalmente até já estão/passam no Parlamento. A atual antecipação das legislativas e a sua proximidade com as próximas autárquicas coloca um problema angustiante a estas personalidades, presumindo, naturalmente, que não irão fazer campanha simultânea para o Parlamento e para uma Câmara qualquer. Já bastaram os deputados eleitos o ano passado que sem aquecerem sequer o lugar em S. Bento, saíram logo a seguir para se apresentarem às Europeias….

Assim, que fazer? Apresentarem-se nas legislativas e deixarem em branco a opção que lhes estava prevista para as autárquicas? Passarem em branco as legislativas e irem apenas às autárquicas, correndo o risco de perderem “pau e bola”?

Não sei, mas o que não gostaria de ver é deputados eleitos a largarem S Bento no dia seguinte à tomada de posse para partirem em campanha para as autárquicas. A vida é feita de opções, não é ?


21 março 2025

Ainda a Vendeia


A cerca de 50 km a sul de Nantes, há uma placa informativa na autoestrada anunciando “Memorial da Vendeia”. A primeira vez que a vi não tinha a mínima ideia do contexto e após informação e posterior visita do local ficou-me como um dos episódios mais dramáticos e representativos daquele período de liberdade terrifica, dois conceitos que infelizmente se apresentam muitas vezes em conjunto.

O tema já foi objeto de publicação anterior, aqui, e posteriormente li a obra acima representada, verdadeiramente (bem) desenvolvida e documentada sobre o tema. Não é objetivo hoje refazer o histórico dessa guerra e guerrilha, da tentativa de genocídio sobre toda a população civil da zona rebelde e demais as barbaridades desse período de terror absoluto, sem o mínimo de respeito pelos “direitos universais do homem”, nem mesmo o direito a viver para aqueles cujo sangue fosse declarado “impuro” (ver a letra da Marselhesa).

Há aqui um fenómeno daqueles que, acreditando tão inequivocamente estarem do lado “certo” da história, não hesitam em enviar para as masmorras ou para o cadafalso, todos os que se considerem estar do lado errado. Em Nantes, chegaram a afogar sumariamente no rio os inimigos do regime, como suposta medida sanitária na sequência da saturação das prisões.

Uma questão que levanta muitas interrogações é como, séculos depois, com todos os elementos para uma visão clara de toda a barbaridade, ainda haja gente “inteligente” que consegue expressar simpatia, compreensão e benevolência para com “Robespierres” e outros que tais. É um verdadeiro mistério da natureza e da irracionalidade humana.

Numa dada passagem do livro, o autor lança um repto se este totalitarismo ideológico jacobino não foi a matriz inspiradora do que a seguir se viu na Europa com os regimes ditatoriais brutais, nomeadamente no século XX. Pode não ter sido inspirador diretamente, poderão apenas terem génese na mesma “doença do poder”, mas as semelhanças são bastantes.

Efetivamente há atualmente órfãos de Estaline e órfãos de Robespierre e com muitos a partilharem as duas orfandades… Qual será a cura, não sei, racionalidade e humanidade não parecem ser.


09 março 2025

Uma moção para ti, uma comissão para mim


Se a empresa de Montenegro vendia consultadoria e com sucesso, estaria suportada por um especialista que só podia ser ele. Quando ele assume responsabilidades políticas esse conhecimento não se passa, como num restaurante se pode passar a terceiros o avental de quem está a lavar pratos. Seria previsível que os serviços deixassem de ser prestados pela indisponibilidade do prestador. Se a empresa continua a faturar e fortemente, das duas uma: ou Montenegro continua a intervir direta ou indiretamente e está mal; ou não há propriamente prestação e a natureza da faturação é… nublosa.

Duma forma ou de outra, não estou a ver uma saída limpa para o caminho feito por estes euros e a questão está toda aqui.

Os nossos brilhantes líderes políticos? Empenham-se na gritaria e em maximizar o retorno do caso. A minha moção de censura é maior do que a tua; a minha comissão de inquérito durará mais tempo do que a tua moção; ameaças censura, mostra (des)confiança… Um espetáculo triste de tacticismo e palpita-me que não vai encerrar tão cedo. Depois, queixem-se … 

06 março 2025

Camarada Trump, amigo; o povo está contigo!

Constitui para mim um mistério como gente com formação, informação e discernimento conseguiu, e alguns ainda conseguem, terem benevolência, compreensão e apoiarem sistemas comunistas que, apesar de algumas boas intenções na sua génese e nessa época, resultaram em implementações miseráveis e muitas delas criminosas em grande escala.

Duplo mistério é como esses supostos iluminados ainda têm simpatia com Putins, que apesar de partilharem a geografia e alguns métodos do famoso e tenebroso pai dos povos, não tem nada de nada em comum com as teorias de Karl Marx.

Onde já não há palavras é para caraterizar o alinhamento destes EUA com os criminosos de Moscovo. Então os EUA não eram o inimigo visceral de todo os comunistas? Como ficam os órfãos de Estaline neste cenário de verdadeiro curto-circuito mental? Seguem Putin e aplaudem Trump? Iremos ver o atual presidente dos EUA discursar na próxima Festa do Avante?

Este alinhamento não lembra ao diabo e deve ser também um curto-circuito mental para os herdeiros do senador McCarthy, o tal que tanto investigou e perseguiu os perigosos comunistas infiltrados nos EUA.

É óbvio que este mundo se rege muito mais por interesses do que por princípios e os EUA já apoiaram bastantes regimes pouco saudáveis para as suas populações e respetivos direitos e liberdades. No entanto alguns princípios, mesmo que teóricos, precisam de existir, que definam a identidade das nações. Não posso acreditar que uma parte significativa da população americana se identifique com estas opções.