A Vendeia está no centro da costa atlântica francesa, um departamento não muito conhecido. A região não tem os pergaminhos históricos da Aquitânia ao Sul, nem a especificidade cultural da Bretanha ao Norte. Um episódio marcou, no entanto, a sua crónica. Nos finais do século XVIII, nas convulsões do processo pós-revolução francesa, ocorreu um levantamento popular contra um recrutamento maciço, tendo-se formado um exército “irregular” que algum trabalho deu àqueles que defendiam a liberdade a todo o custo, passando pelo terror, sempre que “necessário”.
Há uma altura em que, para acabar de vez com a perturbação, os
que queriam impor a (sua) fraternidade, custasse o que custasse, decidem enviar
expedições punitivas que circularão pela região matando todos os que se
apresentam à sua frente, minimamente ou supostamente suspeitos, independentemente
da atividade, sexo ou idade. Uma brutal sequência de massacres, existindo um
memorial evocativo, em Lucs-sur-Boulogne (imagem abaixo), num dos locais onde essas execuções
sumárias foram realizadas.
Obviamente que os tempos hoje são outros e que este tipo de
violência já não é usado para impor ideias, pelo menos por estes lados. No
entanto, ainda há quem não hesite em usar toda a força disponível, e
socialmente aceitável, para calar opiniões diversas. Chama-se cancelamento. Se
antes se entendia que os contestatários podiam perder o direito a viver, hoje
ficamos pela perda do direito a falar. Do mal, o menos…
Felizmente que o limite da agressão aceitável está noutra escala
e dimensão, mas, por muita bondade que possa existir na sua génese, as ideias
que não admitem contraditório são fontes de pobreza, para o mundo e para elas.
Uma ideia que se autoproclama inquestionável e se arroga o direito de destruir
as outras, está ela própria a caminho da destruição de todos os seus eventuais méritos.
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