31 janeiro 2025

Deep "Sick"


Esta semana passou um furacão nos meios e empresas tecnológicas com a chegada da ferramenta de inteligência artificial chinesa, Deep Seek, mais barata e tão ou mais eficaz do que as congéneres americanas estabelecidas.

Quanto a eficácia, ela será um pouco questionável quanto a temas como “Tiananmen”, devendo-nos isto fazer refletir sobre os créditos que devemos dar à isenção destas máquinas sabichonas em geral.

Quanto a custos, sabemos que tudo o que vem da China é barato, nem se sabendo por vezes as razões de fundo da competitividade. De recordar que a Europa, ferida na indústria automóvel, quer travar o que nesse campo de lá chega, por supostas ajudas públicas ao setor.

Por último, mas não menos importante, estas ferramentas precisam de enormes infraestruturas tecnológicas e bons algoritmos, mas, sobretudo, de informação em quantidade brutal. Como uma simples “start-up” caída das nuvens conseguiu criar e ter acesso a essa biblioteca de dados colossal? Sabendo que ela depois se autoalimenta com os dados que lhes são colocados para analisar e rever, terão consciência os utilizadores que estão a engordar uma enorme base de dados chinesa?

Recordando as dúvidas e entraves colocados à utilização de equipamentos de telecomunicação chineses nas nossas redes, será que embarcar nesta IA “barata” não será potencialmente muito mais grave?

30 janeiro 2025

Nem tudo é caso de polícia

Se a imigração passou recentemente a ser tema sensível e até “fraturante” não é por acaso, nem por mera moda ideológica. É porque, menos em Portugal do que noutros locais, há transformações sociais em curso que preocupam quem se deve preocupar com a sociedade em que queremos viver.

Venissieux é uma localidade na periferia de Lyon, em França. Em agosto passado, na padaria da praça central, uma empregada enganou-se e em vez de uma quiche de queijo, entregou uma quiche lorena, que inclui toucinho. Os clientes, ultrajados, quando descobriram o engano, voltaram para agredir a empregada e tentar vandalizar o estabelecimento. Felizmente o proprietário estava presente e conseguiu acalmar os ânimos, sendo o incidente encerrado sem consequências de maior.

Na sequência deste acontecimento, o proprietário decidiu banir a carne de porco do estabelecimento e colocar o mesmo à venda. O principal supermercado tradicional do bairro já migrou para uma versão “halal. Os cafés e restaurantes retiram as bebidas alcoólicas da sua oferta. As professoras receiam apresentarem-se nas escolas com saias que possam “provocar”.

Não há aqui necessariamente um problema legal, mas, a densidade e a pressão de uma comunidade que forçam uma mudança no quadro social e cultural tradicional, sendo que essas mudanças constituem um retrocesso nos direitos, especialmente das mulheres, cerceando liberdades e tantas coisas que fizerem o sucesso deste nosso mundo.

Para evitar entrar por esse caminho devíamos definir e balizar hoje a sociedade em que queremos viver. Deixar rolar até haver uma outra maioria que imponha outros valores não será o ideal e não terá final feliz.

25 janeiro 2025

As malas e as mães


A atualidade nacional tem andado entretida estes dias com as malas do Chega e as mães do Bloco, desenvolvendo-se algum paralelismo. Se quisermos ir ao fundo e ao sério, o que está em causa, em termos políticos, é completamente diferente.

O deputado do Chega rouba malas no aeroporto por ele, para ele. Não tem instruções do partido, nem este beneficia e até se desmarca rapidamente. A culpa do Chega será não ter escrutinado a pessoa e ter elegido um cleptómano.

No caso do Bloco, o cenário é muito diferente, porque está em causa a direção do partido. É um assunto de foro institucional, onde a primeira reação do partido é gritar por “cabala política” e apresentar queixa à ERC. Para lá dos detalhes (i)legais da dispensa das funcionárias, há um pragmatismo, frieza e desumanidade, daqueles que o BE acusa o grande capital, mas que não se coibiu de fazer igual e de tentar esconder, atacando o mensageiro. Muito mau.

O Chega estará a sofrer as consequências de ter um grupo parlamentar precipitadamente escolhido e díspar em muitas dimensões. O BE descobriu que, na prática, o radicalismo combina mal com a necessidade de pagar contas no fim do mês, mas que há capitalistas mais humanos, há…

20 janeiro 2025

Carlos Lopes


Não é que sejamos sistematicamente os melhores entre os melhores, como alguém gosta de andar por aí a repetir, mas Carlos Lopes foi certamente um dos melhores do mundo no seu domínio.

Aquela madrugada da maratona de Los Angeles foi um momento histórico e dos mais intensos vividos por muitos portugueses. Era a medalha de ouro, e logo numa das mais emblemáticas e prestigiosas provas olímpicas, ganha com um inequívoco domínio da corrida e uma desconcertante frescura final.

Um destes dias apanhei na televisão um programa recente em que o atleta conversava com Fátima Campos Ferreira. Para lá dos detalhes que em parte já conhecemos, como a compatibilização daquele nível de preparação com uma atividade profissional, do atropelamento na segunda circular escassas semanas antes dos jogos, etc, há uma imagem que me fica do campeão.

Carlos Lopes foi ambicioso e assumiu essa ambição. Trabalhou duro para a cumprir. Apesar de possuir certamente características genéticas que o ajudaram, reconhece que não chegou lá por acaso, nem se perdeu em choradinhos. Assume a sua ambição e autoconfiança, mas de uma forma absolutamente sã.

Sim, a ambição, e a mais elevada, não implicam forçosamente golpes baixos nem oportunismos duvidosos, arrogância ou altivez.

Um muito bom exemplo este senhor, parece-me

18 janeiro 2025

Quanto vale, quanto custa?


O país comentarista chocou-se com a possibilidade de ser nomeado para secretário-geral do Governo, uma função supostamente muito importante, potencialmente geradora de enormes poupanças e ganhos de eficiência, alguém que iria manter o seu salário atual de mais 15 mil euros.

A polémica apareceu e as contestações proliferaram como cogumelos, até por representar uma remuneração superior à do primeiro-ministro, e essa opção abortou.

Não sei se esse valor é o “correto” em termos de mercado de trabalho para o posto em causa, mas chocam-me duas coisas. A primeira é o valor muito baixo que é pago aos mais altos responsáveis do país. Está certo que não estarão motivados exclusiva ou principalmente pela remuneração direta, mas se queremos “profissionais” de primeira-água, não é com estes valores que eles virão. A segunda, e que terá chocado muito menos gente, é essa pessoa estar atualmente a auferir desse vencimento, supostamente “escandaloso”, no Banco de Portugal, sem se saber muito bem o que por lá faz.

Ou seja, é inaceitável uma remuneração assim para uma função crucial no Governo do país e altamente exigente, mas isso ser pago no BdP para funções de “consultoria”, menos mal…?

15 janeiro 2025

Influenciar no palco ou nos bastidores


Elon Musk tem-se evidenciado por uma série de intervenções e expressão políticas, que não agradam a todos. com Podemos concordar ou discordar, mas não é por ser a pessoa em causa em vez de um simples José Silva que terá maior ou menor direito a dizer o que pensa.

Muitos políticos eleitos e com responsabilidades importantes manifestaram-se e manifestam-se com regularidade sobre outros políticos, outros países, sem serem acusados de ingerência, no sentido nocivo da palavra. Será certamente muito mais pesado alguém eleito com poder executivo dar palpites em casa alheia do que um cidadão, rico ou pobre.

A liberdade de expressar publicamente opiniões é um direito fundamental da sociedade em que vivemos. Como alguém dizia: “Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo”

Confesso que me preocupam muitíssimo mais as ingerências de bastidores. Se Elon Muslk utilizar o X para veicular prioritariamente uma certa ideologia, aí será muito grave. É isso o que deve ser escrutinado. O que é dito no palco é ouvido claramente por todos e pode ser contestado ou contra-argumentado.

12 janeiro 2025

O que esperar da extrema-direita?


Esta semana faleceu Jen-Marie Le Pen, um dinossauro e um dos principais fundadores dos “novos” movimentos de extrema-direita, que tanto espaço conquistaram recentemente na Europa.

 Ao ouvir a truculência, grosseria e falta de respeito pelos princípios básicos do regime democrático proferidos em devido tempo pelo senhor Le Pen, dá para entender perfeitamente a campanha de “cerca sanitária” montada ao seu partido e a estupefação quando em 1995 conquistam a câmara de Toulon, a primeira de uma grande cidade, e quando em 2002 ele passou à segunda volta das eleições presidenciais.

Ao ouvir agora a sua filha e sucessora, Marine le Pen, que tem a segunda volta das presidenciais garantida e salvo reviravolta jurídica ou outra vai mesmo acabar no Eliseu, há um mundo de diferença. O discurso não é de todo do mesmo calibre do do seu pai, que originou a diabolização daquela franja política e, sejamos objetivos, não coloca em causa os princípios básicos do regime. Podemos dizer que o protecionismo não é solução e podermos questionar o nível de abertura das fronteiras, mas, tanto quanto ouvimos, o RN joga o jogo institucional em vigor. O sucesso e crescimento do movimento em França tem duas razões principais. Uma é a perda de credibilidade da classe política tradicional e outra são as transformações culturais e sociais que a imigração está a provocar e para as quais enfiar a cabeça na areia não é solução.

Os resultados de uma eventual governação da extrema-direita são outra discussão e interrogação. Para lá dos resultados concretos das suas políticas, a questão é: a transformação do discurso do Le Pen pai para a Le Pen filha corresponde a uma efetiva mudança de princípios e valores do movimento ou foi apenas “marketing”?

07 janeiro 2025

Sobre o Novo Ano


Aqui estamos, com mais um aninho novinho para estrear. Não acrescenta muito dizer que este vai ser diferente de todos os anteriores, mesmo sendo verdade, porque isso é o que sempre se diz, com maior ou menor rigor…

É certo que não somos nós quem vai resolver todos os males do mundo, os antigos e os novos, mas isso não será também desculpa para ficarmos pela fatalidade passiva.

É certo que cada qual no seu âmbito e no seu espaço pode sempre fazer um esforço para que, no que deles depende, tornar as coisas amanhã melhores do que estavam ontem e todos esses pequenos passos somados, serão um bom salto no bom sentido.

Fica a questão da definição do bom. Há tanta gente absolutamente convencida de ter a bondade inequivocamente do seu lado, que, por ela, assumem a necessidade de avançar com maldades, sempre em prol da sua bondade.

Será talvez uma boa ideia começar por aí. Tentar entender a bondade dos outros