10 novembro 2017

O King Maker


Nos anos 70, houve no Parlamento um famoso e (a)típico deputado da UDP, de nome Acácio Barreiros. Para muita gente era considerado importante existir um ou dois naquele registo, vá lá, no máximo três, mas estava completamente fora de questão que pudessem mandar mesmo… O atual Bloco de Esquerda é um herdeiro direto do partido original de Acácio Barreiros. Mais polido e bem-apresentado, mas as raízes vêm de lá.

Abrindo uma exceção à não utilização de estrangeirismos, os Acácios Barreiros sucessores estão a tornar-se os “king makers” dos regimes e não exclusivamente em Portugal. A degradação e descrédito dos partidos tradicionais do poder faz subir os extremos, que acabam por se tornar os “viabilizadores” das soluções governativas. É uma situação perfeitamente normal, do ponto de vista da representatividade democrática, mas...

Dada a sua “sistemática marginalidade anti-sistema”, a participação ou apoio a uma solução de “poder tradicional” pode ter elevados custos eleitorais. Assim, eles precisam de vender a pele bastante cara e deixar uma assinatura clara nos programas governativos, resultando desproporcional à sua base eleitoral e, sobretudo, desalinhado com a larga maioria adepta de um modelo “tradicional”, com ligeiras nuances para a direita ou para a esquerda. Esses programas acabam por parecer mais uma lista de mercearia de exigências avulsas atendidas, do que algo com orientação e sentido estratégico, entrando-se assim numa navegação à vista, quando os tempos pedem outra coisa.

Saindo de Portugal, o que vemos na Catalunha é muito isso. Os anarquistas/radicais minoritários impuseram uma agenda e criaram a dinâmica que deu nesta triste figura. Como pode alguém falar/defender uma legitimidade democrática saída da “trapalhaçada” do 1/10? Como pode alguém de “esquerda” defender a separação de uma região rica que não quer ser solidária com as mais pobres?

Saindo da esquerda para a direita, noutras paragens, xenófobos e racistas vão chegando à primeira fila. São tão perigosos quanto os radicais de esquerda, dado que, como toda gente sabe, os extremos tocam-se.

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