08 novembro 2017

À flor da imagem


Uma viagem longa com um écran nas costas do banco da frente, fez-me pensar em cinema. Fui à galeria dos premiados e escolhi Gravity para lá e The Revenant para cá. As condições de visionamento não permitiram certamente usufruir de um dos atributos fundamentais de ambos: a imagem.

Em contextos físicos radicalmente diferentes, não deixam de ter semelhanças: uma odisseia solitária, em condições limites, com um filho perdido nas costas. No entanto, ficou-me o sabor de serem excessivamente imagem e de consistência muito superficial.

Se o objetivo era o realce da sobrevivência solitária, dispensava-se o rocambolesco de tantas situações limite, passando até ao lado da potencial inverosimilhança de algumas. Demasiado espetáculo visual e demasiada intensidade acidental para poder sobreviver um enredo minimalista, de alguém apenas com o próprio. Empobrecido o enredo, fica tudo, ou quase tudo, à flor da imagem e não é bem este o cinema de que gosto.

Recordei outro filme visto anteriormente em circunstâncias idênticas, Budapest Hotel, e dei por mim a pensar como o humor e a ironia podem tornar as coisas muito mais sérias e profundas.

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