28 outubro 2017

O que foi diferente?


Existem incêndios florestais significativos em Portugal há décadas. Com mais ou menos área florestal ardida, fatalidades costumavam ser muito pontuais e prejuízos materiais para lá da vegetação eram geralmente limitados a construções isoladas. Este ano foi diferente, pelo número de vítimas e, sobretudo no dia 15/10, pela extensão e natureza dos estragos, abrangendo zonas que não se imaginava expostas.

O que houve de diferente este ano? Diria que fundamentalmente as condições climatéricas de fundo, um inverno muito seco, e uma meteorologia atípica nos dias das catástrofes. Se isto foi efetivamente diferente, por si só não justifica toda a desgraça. Deficiências que poderiam passar desapercebidas em situações menos exigentes, ficaram expostas e agravaram as consequências. Incompetência dos “boys”, planeamento burocrático (as grandes catástrofes de junho e outubro não respeitaram o calendário oficial), as falhas nas comunicações, incluindo a vergonhosa história do Siresp e a falta de profissionalização e de organização no combate aos incêndios.

Não será certamente por falta de leis. Após Pedrogão foi aprovada nova legislação, a tal do D. Dinis bis, e dois meses depois, com o relatório da comissão independente e a segunda catástrofe, novo pacote é lançado. Considerando que uma árvore precisa de décadas para ficar adulta, imaginemos quantas reformas elas verão durante o seu crescimento, caso aguentem. Há bastantes semelhanças entre este pacote de outubro e o pós-2003. Até no anunciar de novas centrais de biomassa e, já agora, onde andam as lançadas em 2006?

Vemos muitas medidas bondosas, mas esquecem uma coisa fundamental: a economia! Enquanto não houver uma perspetiva económica que viabilize a exploração das florestas, estas ficarão abandonadas a gerar biomassa. Podem somar os bombeiros, militares e aviões que quiserem: elas irão arder, será apenas uma questão de tempo.

Entretanto, uma das poucas utilizações economicamente viáveis que é a plantação do eucalipto é diabolizada, como se fundamentalmente só ardessem zonas de eucalipto e o resto, como o pinhal de Leiria, fossem simples exceções, a confirmar a regra. Para lá de outras consequências económicas, se arrancarmos os eucaliptos, reduzindo a atividade económica existente, o abandono não irá agravar? Dizem alguns que não, que vamos plantar carvalhos, são melhores e mais bonitos. São sim, mas nem toda a gente tem o carro melhor e mais bonito que gostaria de ter, pois não? É a economia...

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