15 dezembro 2015

Medo sim, mas de quê


O último número da “Economist” destacava o aumento da extrema-direita populista, supostamente jogando com o medo e incluindo agora (?) a vertente da segurança. Foto de capa com D. Trump, M. Le Pen e V. Orban, aqui copiada.

De acordo com o artigo, um cenário economicamente recessivo cria insegurança, medos, xenofobia e é campo fértil para um perigoso populismo radical. Propunha a sua receita habitual: abrir fronteiras, globalizar, livre circulação de bens e pessoas. Isso cria riqueza. A prosperidade matará então os medos, secando o populismo xenófobo.

Da Hungria não conheço nada, mas julgo existir por aqueles lados xenofobismo a sério. Dos USA também sei pouco, mas reconheço ser assustador ver um Trump a presidir uma superpotência, especialmente se tiver conselheiros do calibre dos de G.W. Bush.

Sobre França, que conheço bastante melhor, afirmo. Sim, existe xenofobismo puro; sim, durante a II Guerra o colaboracionismo foi muito relevante; sim, as ideias na fundação da FN são preocupantes. No entanto, claramente, não é o xenofobismo primário fruto da falta de prosperidade, que o tal reforço de globalização supostamente resolveria, que levou 30% dos eleitores para a extrema-direita.

Na causa está certamente a incompetência e hipocrisia dos políticos tradicionais, mas não só. Quando, e é apenas um exemplo adequado à época, a população se choca por a autarquia suspender as iluminações de Natal nas ruas, em nome de uma laicidade politicamente correta, isto não é xenofobia, mas pode ser capitalizado nesse sentido.

A vitória da direita tradicional na segunda volta das regionais francesas é uma vitória de Pirro. Atribuir um carácter “pestífero” aos radicais, decretando que devem ser cirurgicamente isolados de qualquer exercício de poder é algo desrespeitoso, sobretudo quando representam 30% dos eleitores e ineficaz a prazo, dado estarem a subir consistentemente, com fundamentos para continuar…

O “Economist” que me desculpe, mas para lá das questões económicas, na Europa, também contam as culturais.

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