29 dezembro 2015

O pior do Nazismo

Num destes fins-de-semana, a RTP2 passou um filme sobre Anne Frank. Não acrescentando nada de muito relevante em termos de informação, acrescenta sempre algo como reflexão…

Uma coisa é o Nazismo no palácio, no quartel-general, onde os líderes mais ou menos alienados tomam decisões que provocam a morte de muitas pessoas, mais ou menos atroz, mas sem lhes sentirem o cheiro, vistas apenas quase como uma estatística, enquadradas num objetivo macro qualquer. Convém recordar que a morte deliberada de civis não foi um exclusivo dos “maus”. Massivos bombardeamentos foram realizados pelos aliados a várias cidades alemãs, assumidamente, com a intenção de quebrar o moral às populações.

Outra coisa é no dia-a-dia, entre pessoas que se conhecem, que se cheiram, aceitar e jogar este jogo assassino e a denúncia pouco menos do que gratuita… Como é possível, pessoas que se fitam nos olhos se consigam “dessolidarizar” a ponto de enviar um semelhante inocente e indefeso para a degradação e morte?

Não, o pior do Nazismo não foi Hitler. O pior foi a aceitação do sistema e a participação ativa no mesmo de largas franjas da população e não apenas na Alemanha. Pode-se invocar aqui a tal imagem da “banalização do mal”, apresentada por Hannah Arendt? Eichmann, participando e promovendo ativa e conscientemente a morte de muitos milhares, invocou uma espécie de alienação passiva. Tudo aquilo era “normal”, argumentando constituir uma simples peça acrítica de uma engrenagem complexa. No entanto, os cidadãos básicos que aderiram ao processo não podem invocar assim tão facilmente o fator hierárquico para justificar a perseguição daqueles que até há pouco eram seus vizinhos, colegas e amigos.

Num momento em que a Europa mostra sinais de fadiga em vários campos, com alguns paralelos com a situação antecedente a esse período negro, nunca é demais rever o sorriso de uma Anne Frank, mesmo que seja simplesmente o rosto de uma atriz num filme.

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