28 maio 2015

O primeiro ou o último

Geneseis: Álbum “And then there were three”, tema “Undertow”. “Pensa um pouco … Se este fosse o último dia da tua vida, o que farias?”. Meditar, chorar, implorar, acabar coisas pendentes… ?

Conversa num reencontro após alguns anos sem contato: “Está tudo bem…?”. “Agora está, mas…” e vem uma longa história, mais detalhada do que eu podia/queria registar, de coração, obstrução, desentupimento uma artéria que ficou “armada” artificialmente, etc… Fiquei a pensar: este safou-se de boa, mas com tanta lavoura, deve ter ficado meio tramado para o que lhe resta da vida…

No final da prova de esforço disseram-me: “tem um problema nas coronárias”. Enquanto esperava a consulta que se seguia, pesquisei para tentar entender o que era exatamente aquilo e não gostei do que li. Quando fui ao carro buscar documentação complementar, o ar lá fora já não se respirava da mesma maneira como quando tinha chegado.

Na consulta, a médica diz que tenho o coração doente e que preciso de enfiar um cateter pelo braço acima para analisar e corrigir. Quase olhei para trás, para ter a certeza de que era comigo que ela falava… e disse que não, não podia ser assim tão mau. Despachou-me com um pacote de medicação, incluindo uns comprimentos SOS para deixar derreter debaixo da língua em caso de necessidade.

Saí da farmácia com um saco cheio e os meus passos não eram os mesmos. Não caminhava dirigido a um objetivo, apenas colocava um pé a seguir ao outro. Cruzava-me com gente supostamente normal, alheado pela minha não normalidade. A segunda opinião confirmou o diagnóstico, a tal operação foi feita e aparentemente o problema foi ultrapassado. Como dizia também a música: “Há amanhã, tão certo como eu estar aqui.”

Agora, o que se deve fazer no caso de um “último dia”? Arrumar umas coisas que possam estar apenas de nossa mão, pagar contas em atraso, se for o caso, e … pouco mais. Que pode haver de tão relevante para tão curto tempo? Haverá certamente projetos por fazer ou concluir, mas 24 horas não deverá ser o seu horizonte. Experimentar algo inédito… e para quê exatamente? Para guardar disso a recordação durante um par de horas? Efetivamente, um bom último dia é aquele que é igual aos outros todos. Ter pendente algo de transcendente que se resolve num estalar de dedos, não é sinónimo de vida arrumada.

E, a concluir, na tal música: “Assim os dias transformam-se em anos e o amanhã continua sem aparecer”… Aqui sim, aqui é que vale a pena pensar e investir um bom bocado!!

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