30 junho 2007

Ambientes



Na mensagem anterior, a referência a atmosfera mágica num WC parece despropositada. A que propósito a atmosfera de um WC pode ser classificada de mágica?

A realidade é que se a necessidade de ir a um WC é incontornável, o ambiente encontrado pode ser minimamente suportável ou completamente nauseabundo. Pagar 50 cêntimos para evitar o nauseabundo pode até nem ser caro, não chegando, no entanto, a ser mágico.

E no mesmo lugar, Éfeso, mas com um intervalo de 2 séculos as latrinas públicas onde os locais se reuniam para conversarem enquanto a coisa corria. Ignoro se pagariam 50 cêntimos também.
Ou, como diria uma turista americana: "This was just useful for gays with small bottoms!!!"

27 junho 2007

Mudar de ambiente


De facto... nada como, de vez em quando, mudar de ambiente...
Sobretudo quando até nem é caro!

18 junho 2007

Intervalo

Pedimos desculpa por esta interrupção.
O Glosa Crua regressará dentro de breves dias.

15 junho 2007

As pessoas que sorriem


Provavelmente nunca se saberá ao certo as razões da morte de João Paulo I. A forma como o Vaticano geriu o processo, nomeadamente impedindo a autopsia, não o permitirá. Também não se entende porque fez constar que o Papa estava doente, quanto o seu médico pessoal e os seus próximos afirmavam o contrário. Bloquear a averiguação cientíca e forçar, sem provas e com algumas trapalhadas, a teoria da morte acidental é, no mínimo, suspeito.

Se a causa da morte é desconhecida, uma coisa é certa: o mundo de hoje seria bastante diferente se este homem sorridente não se tivesse apagado na noite de 28 para 29 de Setembro de 1978. E, se essa diferença seria radical na escandalosa teia de manobras financeiras de Marcinkus, Calvi, Sindona e Ghelis misturadas com Mafias, ditaduras sul americanas e corrupção italiana, não ficaria unicamente por aí.

Seria completamente diferente, de uma forma geral, a posição da Igreja Católica no mundo. O homem que tinha ficado desiludido, como muitos outros, quando, após muito hesitar, Paulo VI declara em 1968 que os métodos contraceptivos não naturais não eram aceitáveis do ponto de vista da igreja, iria seguramente rever essa postura. O homem que tinha na sua agenda arejar o Vaticano a todos os níveis perdeu ele próprio o ar antes de conseguir abrir as janelas.

Depois disso tivemos um papa que, já com a realidade SIDA bem presente, vai a África condenar o uso do preservativo. Pode o Vaticano ser mais poderoso e ter fundamentos financeiros mais sólidos. Pode a rede do Opus Dei ser mais consistente do que a da P2. Agora, está é continuará a estar seguramente mais longe das pessoas que sorriem com franqueza, como sorria Albino Lucianni.

Nota: No rescaldo da leitura de “Em Nome de Deus” de David Yallop.

13 junho 2007

Marchas e Folias

Ao ver na RTPi parte de um programa sobre as marchas de S. António de Lisboa, saltou-me aos olhos o quão claramente a diferença entre Lisboa e Porto se encontra reflectida na forma como as duas cidades comemoram os seus “santos” populares.

Em Lisboa o povo, genuíno ou disfarçado, ensaia e exibe-se desfilando frente a uma tribuna, recebendo palmas generosas e/ou condescendentes. Veste-se com trajes de inspiração popular que, na minha opinião, não mais do que popularuchos com aventais, faixas e coletes caricaturais. Ao ver aquelas “minhotas”, “varinas” e demais variações, há uma sensação clara de que quem os veste não sabe nem quer saber de quem vestia os originais. Pode ser engraçado e bonitinho mas é artificial que baste.

No S. João do Porto não há tribunas nem desfiles nem ensaios nem fardas. Há errância anárquica a palmilhar a cidade sem destino: Vamos até à Praça; vamos à Ribeira, vamos ao Palácio, vamos à Boavista, vamos às Fontaínhas... É um noite absolutamente diferente em que se vagueia deixando para trás o ciclo que terminou, espalhando odores fortes. Todos, mas mesmo todos, são iguais e todos interagem. É pena que a moda dos martelos plásticos tenha em grande parte substituído a interacção dos “cheiros”. Para lá da mole humana o único protagonista é o fogo, como manda a antiga tradição das festas do solstício de Verão.

Que mundo de diferença!

11 junho 2007

A picada da vespa

De vez em quando, a Argélia serve-me de base para uma reflexão ou outra. É desculpável e espero não exagerar. Estou cá e este é um país bastante diferente e com uma história plena de particularidades, muitas delas assombrosas.

Num momento da guerra da independência os franceses usaram uma táctica posteriormente popularizada pelo Jack Bauen no “24”. Para evitar uma acção terrorista que pode causar muitas vítimas, torturar o suspeito terrorista é um mal menor. Os franceses exorcizaram esta história já nos inícios do séc. XXI, a partir de uma investigação de uma jornalista do “Le Monde”, Florence Beuagé. Li o livro em que essa investigação foi publicada: “Argélia, uma guerra sem glória”. Por acaso, até acho o título pouco expressivo porque não acredito que haja uma única guerra com glória. Nos livros de história, contadas em epopeia umas boas dezenas ou centenas mais tarde, talvez se possam chamar “gloriosas” a algumas delas. Agora, no dia a dia, na vivência de quem lá está no terreno a matar e a morrer, “glória” é seguramente uma palavra longínqua.

No âmbito desse trabalho de investigação, há uma entrevista esclarecida e explosiva com o General Massu, o comandante dos pára-quedistas e herói do controlo de rebelião urbana em Argel de 1957. Reconhece as práticas da tortura, até aí fechadas em segredo de Estado, e confessa que ele mesmo experimentou em si próprio a descarga eléctrica nos órgãos genitais. Militar é militar, mas para que necessitava ele de voluntariamente ser picado pela vespa? Para saber como era mesmo! E para quê? Para avaliar mais correctamente o efeito nos torturados? Por preocupação humanitária? Por curiosidade simples?

É previsível e seguro que uma picada da vespa não traz nada de bom. E porquê, tantas vezes, atrai ela gente grande e pequena ?

09 junho 2007

Villeneuve, 25 anos depois



Este fim de semana corre-se o GP do Canadá no circuito Gilles Villeneuve e este ano comemoram-se 25 anos sobre a morte do piloto canadiano. Villeneuve nunca foi campeão do mundo. Do ponto de vista dos resultados obtidos fica muito atrás da frieza e da eficácia de um Prost ou de um Schumacher. Do ponto de vista de inspiração também esteve longe dos estados quase sobrenaturais de Senna, principalmente quando este corria à chuva.

No entanto, 25 anos depois, a F1 ainda está órfã do Gilles. O que tinha de diferença? Entusiasmo, determinação e entrega. Imagens que ficam. Um grande prémio, salvo erro da Holanda, em que insiste em regressar às boxes depois de perder uma roda, arrastando-se pela pista, para efectivamente lá chegar, mas já com metade do carro pousado no chão. Não serviu para nada, mas fica aquela coisa do “tem que ser”, sendo que o “tem que ser", não "tem que ser necessariamente racional”.

Não se apagam também da memória aqueles momentos alucinantes do final do grande prémio de França de 1979 em que ele e René Arnoux se ultrapassam mutuamente, num crescendo de audácia e temeridade. Momentos empolgantes, únicos e, principalmente, com uma correcção irrepreensível, sem uma única manobra suspeita. Bastante longe de cenas futuras com os grandes campeões seguintes, em que os cálculos de pontos a ganhar e a perder, provocaram várias vezes guinadas estranhas de volante, que muito beneficiaram o “guinador”.

Visitei em Maranello a “galeria”/museu Ferrari e, aí também, apesar do seu curriculum objectivamente pouco recheado, Villeneuve é uma figura central. Porque há valores para lá dos resultados frios e porque um valor grande sempre será a generosidade. Villeneuve foi um dos meus heróis e não me perguntem porquê. É que aquele Ferrari tinha um espírito diferente de todos os outros carros.
Foto googleada em 3º ou 4º mão, sem registo do original

05 junho 2007

Encerramento



Há algo de devassa nas alvoradas.
A intimidade da noite é quebrada e tudo fica exposto, cada vez mais visível, sem a capa macia do negro.

03 junho 2007

Um craque!

O Neca era espertito, mas um pouco para o preguiçoso. Gostava de carros e se se tivesse aplicado, talvez tivesse conseguido concluir a licenciatura em engenharia mecânica. Ou talvez não. Apenas frequentou parte do primeiro semestre e não foi mais longe porque “não quis”. Se tivesse querido, não teria tido nenhum problema em acabar o curso, mas não quis. Não esteve para se chatear.

No seu carro novo, o Neca encontrou um problema de concepção. O detector da tampa do motor aberta deixara de funcionar. Foi ver e descobriu que trabalhava numa zona mole que cedeu. Teria bastado deslocá-lo para uma zona rígida para ele voltar a funcionar. O Neca não o mudou porque dava trabalho e ele tinha mais que fazer mas, naquele dia, o Neca sentiu-se mais importante do que todos os milhares de engenheiros que tinham trabalhado na concepção do automóvel. Do que aqueles que tinham projectado a estrutura, o motor, os travões, a suspensão, a direcção, o sistema electrónico e por aí fora. Ele, se lá estivesse, teria detectado e sugerido uma correcção para aquele erro. Ele, com apenas meia frequência de um semestre, tinha visto o que àquele bando de incompetentes tinha escapado.

O Neca repetia a sua história no café, pleno de orgulho e de menosprezo pela legião de incapazes que ganhavam fortunas para depois fazerem asneiras daquelas. Imaginem só o que ele poderia ter sido se tivesse terminado o curso! O Neca? É um craque!!!