11 junho 2007

A picada da vespa

De vez em quando, a Argélia serve-me de base para uma reflexão ou outra. É desculpável e espero não exagerar. Estou cá e este é um país bastante diferente e com uma história plena de particularidades, muitas delas assombrosas.

Num momento da guerra da independência os franceses usaram uma táctica posteriormente popularizada pelo Jack Bauen no “24”. Para evitar uma acção terrorista que pode causar muitas vítimas, torturar o suspeito terrorista é um mal menor. Os franceses exorcizaram esta história já nos inícios do séc. XXI, a partir de uma investigação de uma jornalista do “Le Monde”, Florence Beuagé. Li o livro em que essa investigação foi publicada: “Argélia, uma guerra sem glória”. Por acaso, até acho o título pouco expressivo porque não acredito que haja uma única guerra com glória. Nos livros de história, contadas em epopeia umas boas dezenas ou centenas mais tarde, talvez se possam chamar “gloriosas” a algumas delas. Agora, no dia a dia, na vivência de quem lá está no terreno a matar e a morrer, “glória” é seguramente uma palavra longínqua.

No âmbito desse trabalho de investigação, há uma entrevista esclarecida e explosiva com o General Massu, o comandante dos pára-quedistas e herói do controlo de rebelião urbana em Argel de 1957. Reconhece as práticas da tortura, até aí fechadas em segredo de Estado, e confessa que ele mesmo experimentou em si próprio a descarga eléctrica nos órgãos genitais. Militar é militar, mas para que necessitava ele de voluntariamente ser picado pela vespa? Para saber como era mesmo! E para quê? Para avaliar mais correctamente o efeito nos torturados? Por preocupação humanitária? Por curiosidade simples?

É previsível e seguro que uma picada da vespa não traz nada de bom. E porquê, tantas vezes, atrai ela gente grande e pequena ?

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