15 junho 2007

As pessoas que sorriem


Provavelmente nunca se saberá ao certo as razões da morte de João Paulo I. A forma como o Vaticano geriu o processo, nomeadamente impedindo a autopsia, não o permitirá. Também não se entende porque fez constar que o Papa estava doente, quanto o seu médico pessoal e os seus próximos afirmavam o contrário. Bloquear a averiguação cientíca e forçar, sem provas e com algumas trapalhadas, a teoria da morte acidental é, no mínimo, suspeito.

Se a causa da morte é desconhecida, uma coisa é certa: o mundo de hoje seria bastante diferente se este homem sorridente não se tivesse apagado na noite de 28 para 29 de Setembro de 1978. E, se essa diferença seria radical na escandalosa teia de manobras financeiras de Marcinkus, Calvi, Sindona e Ghelis misturadas com Mafias, ditaduras sul americanas e corrupção italiana, não ficaria unicamente por aí.

Seria completamente diferente, de uma forma geral, a posição da Igreja Católica no mundo. O homem que tinha ficado desiludido, como muitos outros, quando, após muito hesitar, Paulo VI declara em 1968 que os métodos contraceptivos não naturais não eram aceitáveis do ponto de vista da igreja, iria seguramente rever essa postura. O homem que tinha na sua agenda arejar o Vaticano a todos os níveis perdeu ele próprio o ar antes de conseguir abrir as janelas.

Depois disso tivemos um papa que, já com a realidade SIDA bem presente, vai a África condenar o uso do preservativo. Pode o Vaticano ser mais poderoso e ter fundamentos financeiros mais sólidos. Pode a rede do Opus Dei ser mais consistente do que a da P2. Agora, está é continuará a estar seguramente mais longe das pessoas que sorriem com franqueza, como sorria Albino Lucianni.

Nota: No rescaldo da leitura de “Em Nome de Deus” de David Yallop.

Sem comentários: