08 janeiro 2006

Viagem só de quem erra



Enquanto avança, enquanto sobe, o viajante abraça a montanha.

Avalia a altura que sob os seus pés escoa. Aprecia os panoramas, que em ângulos secretos lhe chegam. Ziguezagueia em caprichos que tenta adivinhar. E por vezes desce para adiante recuperar. E suspende a subida, para mais à frente relançar.

Difícil imaginar melhor brinquedo, exercício mental mais salutar.

Mas o topo é terrível! A panorâmica de 360º é um vazio, uma intimidade violada. Já nada se espera, já nada se avalia. Todos os sentidos se congelam numa expectativa encerrada. O ar é tão opressivo, e tão só, que não se aguenta muito tempo. E, como não há outro sítio para onde ir, recua-se pela encosta.

A altura já não se mede, as vistas não se renovam. Ao que se junta um certo travo de marinheiro, que após um oceano atravessar, regressa pelo mesmo caminho porque não encontrou porto onde o barco arrimar.

No fim, o balanço incapaz: entre o gozo da subida, a crueza do topo e o amargo do regresso.

E há que recomeçar, nova montanha procurar. E inconsciente acreditar que esta terá no topo um lugar onde é bom estar. Porque a sua encosta será infinita!

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